Comemorações Em 2007 pela primeira vez a Amazônia Legal ultrapassou uma marca histórica: 10 milhões de abates bovinos. O rebanho atingiu aproximadamente 74 milhões de cabeças de gado (3,3/habitante), ou seja, o triplo da média nacional (documento “O Reino do Gado: uma Nova Fase na Pecuarização da Amazônia Brasileira”, em PDF, de http://www.amigosdaterra.org.br/). As médias maiores são de Mato Grosso (9,3) e Rondônia (7,7). Os investimentos provêm principalmente de grandes grupos financeiros; os pequenos produtores são esquecidos. Um exemplo: o grupo Banco Opportunity, do ora famoso banqueiro Daniel Dantas, adquiriu fazendas de grande porte em sete municípios do sul do Pará.
Em 2006 o Brasil exportou U$2,2 bilhões de carne bovina, figurando entre os 10 primeiros itens de maior exportação do país. A participação da Amazônia nas exportações de carne cresceu expressivamente entre 2000 e 2006, passando de 6% (10 mil toneladas) para 22 % do total (263,7 mil toneladas); em parte, “graças à febre aftosa” que atingiu gado em MS e PR, principalmente. MT foi o principal exportador.
Alguns fatores apontados como responsáveis pelo crescimento da pecuária na região: (1) baixo custo da terra (terras públicas passíveis de serem ocupadas ilícita e impunemente); (2) a pecuária antes praticada no sul do país sendo empurrada para o norte devido ao aumento da pressão por terras para plantios de cana-de-açúcar e soja; (3) geração de tecnologias de intensificação e manejo (com vários aspectos: introdução de espécies de gramíneas e leguminosas melhor adaptadas; pecuária com gestão empresarial; inseminação artificial para melhoramento genético do gado principalmente do zebu; formulação para suplementação de alimentação mineral adequada; etc.).
Inquietações Em documento do IMAZON – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (2008) (disponibilizado em PDF, em http://www.imazon.org.br/), sob título “A Pecuária e o Desmatamento na Amazônia na Era das Mudanças Climáticas”, os autores P. Barreto, R. Pereira e E. Arima apontam diversos fatores que conduziram ao desmatamento acelerado na Amazônia entre 1990 e 2006: foram desmatados 30,6 milhões de hectares (= 306.000 km2) na região, conforme estimativas do INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2007). Descontados dessa área os 5,3 milhões de hectares (ou 53.000 km2) destinados à agricultura e reflorestamento (de acordo com dados do IBGE/2007), aqueles autores estimam que cerca de 25,3 milhões de hectares (ou 253.000 km2) foram potencialmente ocupados por pastos entre 1990 e 2006. Outro fator apontado como importante no desmatamento foram os subsídios financeiros públicos para a pecuária. “Grilagem” (ilegalidade de títulos de terras públicas) é um terceiro fator (cerca de 70 milhões de hectares ou 700 mil km2 nessa situação; isso somente em 2001). Já em 2003, segundo o primeiro autor acima citado (em outro de seus trabalhos), havia 42 milhões de hectares ou 420.000 km2 de posses ilegais (equivalentes à soma dos territórios de cinco Estados brasileiros: SP, RJ, ES, PB e SE).
Outros dados estatísticos importantes são apresentados pelos autores do artigo de divulgação do IMAZON, acima citado; incluindo as medidas tomadas pelo governo federal (como a redução de 50% para 20% a área que poderia ser desmatada; emissão de multas contra ações ilegais; investigações contra a corrupção para o licenciamento ambiental...) ... e apesar disso tudo, o desmatamento aumentou. O que “regulou” o desmatamento foram os preços da soja e do gado, que arrastaram para baixo os dados do desmatamento. O capitalismo é assim mesmo! Está acima, até mesmo do senso de preservação da vida!
Nesse documento do IMAZON os autores concluem, com respeito ao uso do crédito rural: “O crédito rural subsidiado para a Amazônia deveria excluir a agropecuária, pois indiretamente estimula o desmatamento. Se for para manter algum tipo de subsídio para a região, que seja direcionado para atividades que produzam benefícios públicos como os serviços ambientais e ecológicos – por exemplo, o reflorestamento que estimula a conservação da biodiversidade e o seqüestro de carbono”.
A taxa de lotação, ou seja, número de cabeças de gado por área de pastagem aumentou entre 1995 e 2006 de 0,7 cabeça por hectare para 0,96 cabeça por hectare. A média regional é 1,4. Depende tal variação de alguns fatores, como: condições de fertilidade e de manejo do solo, seu uso anterior, manejo do pasto, proveniência genética do gado e do seu próprio manejo. É digno de destaque (do documento “O Reino do Gado”...) o fato de que “os pastos recentemente convertidos de florestas possuem a maior fertilidade, um fator que contribui para estimular a expansão da fronteira pecuária”, observação esta reforçada pelo documento do IMAZON: “os pastos novos podem ter até o dobro da lotação de pastos antigos não-renovados”. Daí é fácil concluir: mais trechos de floresta serão derrubados. O modelo amazônico parece se perpetuar: venda da madeira financiando a derrubada da floresta, queima e introdução de pastagens.
Vários outros aspectos geram mais preocupações: (1) pastagens implantadas em áreas inapropriadas (algumas abandonadas posteriormente); (2) baixo investimento na recuperação de pastagens; (3) dado da Embrapa (desde os anos 90): o custo de recuperação de pastagens pode ser quatro vezes maior do que o da utilização de novas terras; (4) redução da umidade do solo (ver foto acima); (5) carência de políticas públicas na área fundiária: impunidade na apropriação indevida; (6) crédito sem restrição para atividades ilegais; (7) falta de zoneamento agroecológico. E ainda: dos mais de 200 frigoríficos existentes, somente 87 operam com base de legalidade (com o SIF – Sistema de Inspeção Federal); mais de 73% dos frigoríficos exportadores adquiriram carne de fazendas com trabalho escravo em 2006-7; falta de incentivo fiscal para converter sistemas de produção extensivos em intensivos sustentáveis (com adequação à legislação, tecnologias, gerenciamento...).
A Amazônia Legal (área delimitada para fins de planejamento, contendo a floresta amazônica, cobre superfície de 5.217.423 km2 = 61% do território brasileiro), compreende nove Estados: RR, AP, AM, PA, MA, AC, RO, MT e TO. A área desmatada acumulada na Amazônia Legal atingiu em 2007, cerca de 720.000 km2. O PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente revela agora em janeiro/2009 que 17% da floresta (=857 mil km²), incluindo cinco dos países onde ela existe, já foram devastados (exceções: na Venezuela e Peru).
E agora a pergunta: é fácil continuarmos na defesa peremptória de que a Amazônia é nossa e assim, cabe somente a nós dizer o quê deve ser feito dela??? Mais capítulos virão neste “blog”, antes que “como ecólogo, e o agravante de ser brasileiro” eu responda a tal pergunta.
Em 2006 o Brasil exportou U$2,2 bilhões de carne bovina, figurando entre os 10 primeiros itens de maior exportação do país. A participação da Amazônia nas exportações de carne cresceu expressivamente entre 2000 e 2006, passando de 6% (10 mil toneladas) para 22 % do total (263,7 mil toneladas); em parte, “graças à febre aftosa” que atingiu gado em MS e PR, principalmente. MT foi o principal exportador.
Alguns fatores apontados como responsáveis pelo crescimento da pecuária na região: (1) baixo custo da terra (terras públicas passíveis de serem ocupadas ilícita e impunemente); (2) a pecuária antes praticada no sul do país sendo empurrada para o norte devido ao aumento da pressão por terras para plantios de cana-de-açúcar e soja; (3) geração de tecnologias de intensificação e manejo (com vários aspectos: introdução de espécies de gramíneas e leguminosas melhor adaptadas; pecuária com gestão empresarial; inseminação artificial para melhoramento genético do gado principalmente do zebu; formulação para suplementação de alimentação mineral adequada; etc.).
Inquietações Em documento do IMAZON – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (2008) (disponibilizado em PDF, em http://www.imazon.org.br/), sob título “A Pecuária e o Desmatamento na Amazônia na Era das Mudanças Climáticas”, os autores P. Barreto, R. Pereira e E. Arima apontam diversos fatores que conduziram ao desmatamento acelerado na Amazônia entre 1990 e 2006: foram desmatados 30,6 milhões de hectares (= 306.000 km2) na região, conforme estimativas do INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2007). Descontados dessa área os 5,3 milhões de hectares (ou 53.000 km2) destinados à agricultura e reflorestamento (de acordo com dados do IBGE/2007), aqueles autores estimam que cerca de 25,3 milhões de hectares (ou 253.000 km2) foram potencialmente ocupados por pastos entre 1990 e 2006. Outro fator apontado como importante no desmatamento foram os subsídios financeiros públicos para a pecuária. “Grilagem” (ilegalidade de títulos de terras públicas) é um terceiro fator (cerca de 70 milhões de hectares ou 700 mil km2 nessa situação; isso somente em 2001). Já em 2003, segundo o primeiro autor acima citado (em outro de seus trabalhos), havia 42 milhões de hectares ou 420.000 km2 de posses ilegais (equivalentes à soma dos territórios de cinco Estados brasileiros: SP, RJ, ES, PB e SE).
Outros dados estatísticos importantes são apresentados pelos autores do artigo de divulgação do IMAZON, acima citado; incluindo as medidas tomadas pelo governo federal (como a redução de 50% para 20% a área que poderia ser desmatada; emissão de multas contra ações ilegais; investigações contra a corrupção para o licenciamento ambiental...) ... e apesar disso tudo, o desmatamento aumentou. O que “regulou” o desmatamento foram os preços da soja e do gado, que arrastaram para baixo os dados do desmatamento. O capitalismo é assim mesmo! Está acima, até mesmo do senso de preservação da vida!
Nesse documento do IMAZON os autores concluem, com respeito ao uso do crédito rural: “O crédito rural subsidiado para a Amazônia deveria excluir a agropecuária, pois indiretamente estimula o desmatamento. Se for para manter algum tipo de subsídio para a região, que seja direcionado para atividades que produzam benefícios públicos como os serviços ambientais e ecológicos – por exemplo, o reflorestamento que estimula a conservação da biodiversidade e o seqüestro de carbono”.
A taxa de lotação, ou seja, número de cabeças de gado por área de pastagem aumentou entre 1995 e 2006 de 0,7 cabeça por hectare para 0,96 cabeça por hectare. A média regional é 1,4. Depende tal variação de alguns fatores, como: condições de fertilidade e de manejo do solo, seu uso anterior, manejo do pasto, proveniência genética do gado e do seu próprio manejo. É digno de destaque (do documento “O Reino do Gado”...) o fato de que “os pastos recentemente convertidos de florestas possuem a maior fertilidade, um fator que contribui para estimular a expansão da fronteira pecuária”, observação esta reforçada pelo documento do IMAZON: “os pastos novos podem ter até o dobro da lotação de pastos antigos não-renovados”. Daí é fácil concluir: mais trechos de floresta serão derrubados. O modelo amazônico parece se perpetuar: venda da madeira financiando a derrubada da floresta, queima e introdução de pastagens.
Vários outros aspectos geram mais preocupações: (1) pastagens implantadas em áreas inapropriadas (algumas abandonadas posteriormente); (2) baixo investimento na recuperação de pastagens; (3) dado da Embrapa (desde os anos 90): o custo de recuperação de pastagens pode ser quatro vezes maior do que o da utilização de novas terras; (4) redução da umidade do solo (ver foto acima); (5) carência de políticas públicas na área fundiária: impunidade na apropriação indevida; (6) crédito sem restrição para atividades ilegais; (7) falta de zoneamento agroecológico. E ainda: dos mais de 200 frigoríficos existentes, somente 87 operam com base de legalidade (com o SIF – Sistema de Inspeção Federal); mais de 73% dos frigoríficos exportadores adquiriram carne de fazendas com trabalho escravo em 2006-7; falta de incentivo fiscal para converter sistemas de produção extensivos em intensivos sustentáveis (com adequação à legislação, tecnologias, gerenciamento...).
A Amazônia Legal (área delimitada para fins de planejamento, contendo a floresta amazônica, cobre superfície de 5.217.423 km2 = 61% do território brasileiro), compreende nove Estados: RR, AP, AM, PA, MA, AC, RO, MT e TO. A área desmatada acumulada na Amazônia Legal atingiu em 2007, cerca de 720.000 km2. O PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente revela agora em janeiro/2009 que 17% da floresta (=857 mil km²), incluindo cinco dos países onde ela existe, já foram devastados (exceções: na Venezuela e Peru).
E agora a pergunta: é fácil continuarmos na defesa peremptória de que a Amazônia é nossa e assim, cabe somente a nós dizer o quê deve ser feito dela??? Mais capítulos virão neste “blog”, antes que “como ecólogo, e o agravante de ser brasileiro” eu responda a tal pergunta.