Alguns breves comentários sobre a tragédia japonesa. Não há nenhum exagero no título deste curto ensaio sobre os cataclismos e as tão clamadas catástrofes naturais, que temos vivenciado na primeira década do século XXI e início desta segunda década. Vejamos o exemplo atual, com esta breve história da tragédia no Japão, fundamentada em narrativas divulgadas em www.newscientist.com, em 16/março/2011 e as notícias recentes em outras fontes (BBC, CNN, jornais internacionais...).
É impressionante como tanto as autoridades governamentais favoráveis ao uso da energia nuclear como especialistas e defensores de sua utilização MENTEM! É impressionante como a tecnologia da fissão atômica e a exploração de seu uso para gerar energia elétrica, constituindo-se portanto em tecnologia “avançadíssima”, para evitar uma tragédia de proporções imensuráveis, tenha que utilizar baldes d’água sendo atirados do ar, por helicópteros, para resfriar os reatores que estão prestes a explodir!!! Igualzinho ao que se faz para apagar incêndios em florestas! Impressiona-me também o fato de que os defensores do uso da energia nuclear aleguem que essa tragédia no Japão é “caso isolado”; e que isso aconteceu por causa do terremoto e tsunami. Mais uma mentira! A situação está fora de controle pelas autoridades por que faltou energia elétrica (gerada por outra fonte, talvez carvão mineral) no sistema de resfriamento dos reatores. Uma verdade omitida: o Wikileaks revelou que em 2008 o IAEA – International Atomic Energy Agency advertira as autoridades japonesas que há 35 anos o governo não revisava seu sistema de segurança das mais de 50 usinas nucleares do país (vejam no site: http://www.ipjornal.com/noticias-internacionais/434146_wikileaks-japao-foi-alertado-para-riscos-nucleares-em-caso-de-sismo.html). Vejamos outra precariedade da “segurança”: de acordo com as autoridades japonesas (agência de notícias Kyodo, via BBC de Londres) os bastões do reator número 2 (da usina Fukushima 1) ficaram expostos porque faltou combustível na bomba que jogava água do mar sobre o reator!!! Mas a grande culpa da tragédia é atribuída à Natureza, que é trágica, impiedosa, injusta... e outras baboseiras mais vociferadas pelas incompetentes e inconsequentes, para não dizer IRRESPONSÁVEIS autoridades.
O “poder modificador da Natureza” (e não poder “destrutivo”). 1) A rede de mais de 800 estações de monitoramento de terremotos do Japão possibilitou que a Agência Meteorológica do Japão advertisse que um terremoto estaria atingindo a ilha central de Honoshu com magnitude 7,9 (depois estimado em 8,9 e que no final foi de 9,0, atualizado pelo USGS – United States Geological Survey). 2) E dentro das 48 horas da ocorrência deste terremoto as 1200 estações de GPS já estavam registrando que a crosta (da Terra) na parte central da ilha de Honoshu tinha se elevado 4 metros e moveu todo o Japão em cerca de 2,5 m; o eixo da Terra deslocou-se de sua posição em cerca de 8 cm. 3) Tanto o terremoto no Chile do ano passado (magnitude 8,8) quanto este do Japão, aceleraram deslizamento de geleira na Antártica (meio metro a mais, em cada deslizamento normal).
Segundo pesquisadores do USGS, este terremoto no Japão será um dos mais bem estudados da nossa história. O terremoto levou cerca de 3 minutos e meio para que a área afetada da fossa do Japão completasse sua ruptura ao longo de mais de 400 km. Uma curiosidade: por que tal ruptura não parou nos 100 km? Ou por que não continuou para além dos 1000 km como aconteceu com a falha de Sunda, na costa da Sumatra com o terremoto no oceano Índico em 2004?
O diário de uma possível tragédia nuclear. As duas principais usinas nucleares que estão no centro dessa crise estão situadas entre Sendai (a principal cidade devastada pela tsunami) e Tóquio. A primeira delas é Fukushima Daiichi (ou Fukushima 1) e a outra é Fukushima Daini (ou Fukushima 2). Os reatores 1, 2, 3 e 4 de Fukushima 1 são os mais problemáticos, principalmente o número 2, onde se presume que os bastões de combustível nuclear estejam expostos. Relatos dão conta de que isótopos radioativos de césio-137 e iodo-131 foram detectados em torno dos reatores. Níveis muito altos de radiação (400 millisieverts por hora) foram registrados na usina (2 horas de exposição a essa dose causa enjoos) (um raio-X da coluna vertebral nos expõe a um nível de radiação de 1 millisievert). Há possibilidades de que isótopos de nitrogênio e argônio também tenham escapado. Não há evidências de que os de urânio e plutônio tenham escapado. O iodo radioativo é particularmente danoso para pessoas jovens. Em Chernobyl (1986) ocorreram vários casos de câncer da tireoide. Por isso administra-se a essas pessoas tabletes de iodo, que evitará que o radioativo seja absorvido. O césio radioativo acumula-se nos tecidos moles, enquanto o plutônio acumula-se nos ossos e fígado. Nitrogênio e argônio decompõem-se rapidamente e por isso não oferecem risco à saúde. Estudos conduzidos pelo Escritório Federal Alemão para Proteção Contra Radiação dão conta de que crianças com menos de 5 anos de idade vivendo dentro de um raio de 5 km de distância dos reatores de uma usina nuclear (funcionando normalmente) desenvolveram câncer de medula óssea. Tais crianças tem probabilidade duas vezes maior de ter leucemia. Por que poderia ocorrer explosão? Em altas temperaturas o vapor pode se decompor em hidrogênio e oxigênio na presença de zircônio, metal usado no revestimento do vaso que contém o bastão de combustível nuclear e esta mistura é altamente explosiva.
Three Mile Island em 1979 nos Estados Unidos, Chernobyl em 1986 na Ucrânia e agora (2011) Fukushima no Japão. Quantos mais “acidentes” serão necessários para se repensar sobre investimentos maiores em pesquisas sobre uso da energia solar, eólica e outras fontes alternativas menos perigosas? Alemanha e China estão reexaminando sua política de uso da energia nuclear. E o Brasil? Terá mais 4 usinas nucleares até 2030, conforme o projeto da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)? E Angra dos Reis, situada em solo instável? Será outro “caso isolado”?