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20 de set. de 2014

SERINGAL: AINDA COM HISTÓRIA DOS TEMPOS DE CHICO MENDES

Reproduzido  da Folha de S. Paulo

Na tarde em que a reportagem da Folha visitou o seringal, o único adulto era Erismar Ribeiro da Silva, 29. Os outros haviam ido participar de uma reunião convocada pela escola rural do seringal, a uma hora de caminhada.

Pai de duas crianças, ele explicou que, por causa do preço baixo da borracha, abandonou a seringa há três anos. A sua principal renda é o Bolsa Família de R$ 160, que ele retira a cada dois meses por causa do alto custo do transporte --ir a Brasileia, a cerca de 60 km, custa R$ 40.

De extrativismo, Silva diz que, atualmente, apenas a castanha, coletada no começo do ano, vale a pena. Mas o dinheiro, explica, "dura dois meses, esticando três".

A alguns quilômetros dali, o líder comunitário do seringal Porvir, Severino da Silva Brito, 58, diz que muitos desmatam para pastagens além do limite legal, de 30 hectares por colocação (área ocupada cada família), mas "negocia a multa e não é expulso. Tem cabra pego com madeira e não é expulso".

"Eu me sinto muito minoria [contra o desmate]. A gente fica como um grão de areia no meio de 1 milhão de hectares. Do jeito que vai, máximo que dou [para a reserva] é 30 anos. E olhe, olhe." de S. Paulo]

Com uma úlcera aberta no lado direito do rosto, Aimê da Silva, 2 anos, é a terceira criança da família de seringueiros a contrair leishmaniose somente neste ano.

Distante cinco horas --incluindo três horas a pé-- de Brasileia, a cidade mais próxima, a família optou por tratar a doença, que pode ser fatal, com pó de casca de mangueira e de caju.

A menina mora com os pais, quatro irmãos, dois primos e dois tios no seringal Cristovão, a cerca de 20 km adentro da reserva extrativista federal Chico Mendes, uma área de quase 1 milhão de hectares, o equivalente a seis vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

Homologada em 1990, dois anos após o assassinato do líder seringueiro, a reserva abriga cerca de 2.000 famílias. Atualmente, a maioria abandonou a borracha e vive com um pouco de agricultura, da coleta de castanha e do Bolsa Família.

Outras famílias, principalmente as mais próximas do asfalto, recorrem à pecuária, à venda clandestina de terras públicas e à extração ilegal de madeira.A estimativa oficial é que cerca de 8% da cobertura florestal original tenha sido derrubada, contra 0,6% na época em que a reserva foi criada, 24 anos atrás.

A maior parte da devastação ocorreu em áreas próximas às rodovias que passam pela região. No levantamento mais recente sobre pecuária, de 2009, havia pouco mais de 21 mil cabeças.

A família de Aimê está no primeiro caso, com um estilo de vida parecido ao da época em que a candidata Marina Silva crescia em um seringal do Estado. As três casas, de madeira, não têm energia elétrica e estão cercadas por um roçado --não há gado. A única comunicação com o exterior é por meio de um rádio de pilha.

Os moradores dos seringais continuam padecendo das mesmas doenças contraídas por Marina nas décadas de 1960 e início dos anos 1970, como a leishmaniose.

A rede pública oferece tratamento, mas a cura é demorada. Por causa dos efeitos colaterais --foi o medicamento contra a leishmaniose que contaminou a candidata presidencial com metais pesados--, o paciente precisa fazer o tratamento na cidade durante 20 a 30 dias, um enorme problema para quem não tem parentes no asfalto.

Por falta de meios de transporte, a produção agrícola da família é muitas vezes trocada por outros produtos ou horas de trabalho com vizinhos. A carne vem da criação de galinha ou da caça e pesca, permitidas aos moradores da reserva desde que seja para consumo próprio. Na tarde em que a reportagem da Folha visitou o seringal, o único adulto era Erismar Ribeiro da Silva, 29. Os outros haviam ido participar de uma reunião convocada pela escola rural do seringal, a uma hora de caminhada.

Pai de duas crianças, ele explicou que, por causa do preço baixo da borracha, abandonou a seringa há três anos. A sua principal renda é o Bolsa Família de R$ 160, que ele retira a cada dois meses por causa do alto custo do transporte --ir a Brasileia, a cerca de 60 km, custa R$ 40.

De extrativismo, Silva diz que, atualmente, apenas a castanha, coletada no começo do ano, vale a pena. Mas o dinheiro, explica, "dura dois meses, esticando três".

A alguns quilômetros dali, o líder comunitário do seringal Porvir, Severino da Silva Brito, 58, diz que muitos desmatam para pastagens além do limite legal, de 30 hectares por colocação (área ocupada cada família), mas "negocia a multa e não é expulso. Tem cabra pego com madeira e não é expulso".

"Eu me sinto muito minoria [contra o desmate]. A gente fica como um grão de areia no meio de 1 milhão de hectares. Do jeito que vai, máximo que dou [para a reserva] é 30 anos. E olhe, olhe."

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