ATÉ A IMPREVISIBILIDADE DA NATUREZA já vem se tornando previsível!!! Este paradoxo aplica-se a muitas ações da Natureza em diversas regiões do mundo. Alguns poucos exemplos: a tsunami que em 27 de dezembro de 2004 destruiu ocupações humanas litorâneas da Indonésia, Índia... matando cerca de 220.000 pessoas (numa região que já se sabe ser suscetível a terremotos, por sua proximidade a locais com placas tectônicas que se movimentam, o ser humano aproxima suas edificações precárias o máximo possível às ações do mar); o furacão Katrina (que encontrou um ambiente vulnerável a suas ações, devido ao fato de que o ser humano tomou o espaço do "agente de tamponamento" ou defesa natural, que são os pantanais na Louisiana, região no golfo do México altamente suscetível a tais fenômenos da Natureza); em Bangladesh os desastres tornaram-se rotineiros (uma combinação de cataclismos naturais com desflorestamento, degradação e erosão do solo) ; e inúmeros outros exemplos relacionados à ocupação humana em ambientes suscetíveis a cataclismos...
E agora é a nossa vez! Já não bastam os históricos períodos de seca no nordeste... vêm as cheias no sul. Nas costas do estado de Santa Catarina são comuns ocorrências como as que ora vêm acontecendo (há registros de tais ocorrências desde o ano de 1852). Na década de 1970 ocorreu catástrofe similar, com quase 200 mortos. E agora as mortes já passam de 110.
A Natureza participa dessa catástrofe com os anticiclones que são sistemas de alta pressão que, no Hemisfério Sul, originam ventos em sentido anti-horário. Eles são comuns no litoral catarinense e no gaúcho, de onde sopram ventos do Oceano Atlântico em direção ao continente. Isolados, não têm a força de causar grandes estragos e sua duração numa mesma região não costuma ultrapassar três dias. Só que, desta vez, por causa de um bloqueio atmosférico, isso não ocorreu. Até sexta-feira, o anticiclone permanecia no mesmo lugar. Ainda que extraordinária, sua longa permanência não teria causado a tragédia não fosse o fato de um segundo fenômeno: o vórtice ciclônico, que ocorreu simultaneamente. Ao contrário do anticiclone, o vórtice ciclônico é um sistema de baixa pressão que atrai ventos e gira no sentido horário. Como indica o nome, ele funciona como um redemoinho em altitudes médias, e também não é um fenômeno estranho à região. O problema surgiu da combinação com o anticiclone: o vórtice ciclônico suga os ventos imediatamente abaixo dele, levando-os para cima, resfriando-os e provocando novas chuvas. Foi assim, por meio da ação extraordinariamente simultânea de dois fenômenos ordinários, que os índices pluviométricos na região atingiram patamares de dilúvio.
E agora um outro componente agravador da catástrofe: a atitude humana perante as características da Natureza: o solo do Vale do Itajaí, a região mais afetada pelas chuvas, é de composição argilosa, o que faz com que se desloque mais facilmente. Encharcada pela chuva forte e constante, essa camada ficou mais pesada. Somem-se a isso a declividade das encostas, os desmatamentos, as ocupações desordenadas e o resultado são deslizamentos destruidores, o principal causador das mortes no litoral catarinense e no Vale do Itajaí. Como 40% da população local reside em encostas, todas as classes sociais foram afetadas.
E assim estamos sempre dizendo: isso aconteceria em qualquer lugar do mundo!!! Vamos nos resignar!!!