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13 de jun. de 2022
“HOMO SAPIENS” EM EVOLUÇÃO. SERÁ QUE TODAS SUAS PECULIARIDADES TORNARAM-SE VANTAJOSAS À PRESERVAÇÃO DA VIDA NO PLANETA?!
Com um traço debochado, o renomado zoólogo Desmond Morris nomeia o Homo Sapiens como o macaco nu em seu livro “The naked ape”. Morris disserta a respeito das características evolutivas do homem, abordando teorias e hipóteses para cada característica física e comportamental adquirida e enfatizando nossa animalidade. Com visão tridimensional, capacidade de manipular objetos e o cérebro em crescimento, nossos ancestrais primatas arborícolas desenvolveram alta capacidade de domínio na copa das árvores. Quando os primeiros macacos terrestres surgiram, a postura passou a ser ereta e as mãos, antes utilizadas principalmente na locomoção, passaram a manipular objetos. Enquanto isso, o cérebro, já bem complexo, desenvolveu a capacidade de organização social, importante para a caça. A organização social tornou-se hierárquica para o melhor desempenho na caça e defesa territorial, sendo necessários líderes mais fortes para comandar os grupos. Formaram-se pares familiares e relações de cooperação nos grupos para domínio hierárquico dos infantes. Muitas dessas características biológicas, o domínio da cooperação na caça em grupo, aliado ao domínio de armas artificiais, tornaram o macaco nu um exímio caçador, diminuindo sua competição com outros animais eficazes caçadores como cães, gatos e lobos, porém, levando outras espécies à extinção.
Uma das teorias vigentes sobre o declínio da megafauna no Quaternário está diretamente relacionada com a chegada do homem em cada continente e à caça para subsistência. A mesma característica de exímios caçadores capazes de causar a extinção biológica narrada por Desmond é destacada, e nos faz refletir sobre nosso modo de vida e organização em sociedade atual que tem o potencial de levar à extinção inúmeras espécies, incluindo a nossa. Dentre as principais causas dos problemas ecológicos da atual sociedade desenvolvida é o crescimento populacional desenfreado. A globalização e modernização tecnológica progrediram de formas desconexas com o meio ambiente, e a superexploração, o agronegócio e o desenvolvimento urbano são as maiores causas de perda de biodiversidade mundial. Não à toa que a era atual é chamada de Antropoceno, definida pela época geológica diretamente relacionada aos impactos dos humanos na Terra.
Sob essa narrativa, podemos destacar o caso da Ilha de Páscoa no Chile, no extremo do oceano pacífico. Os primeiros habitantes da ilha eram agricultores e desmatavam a floresta que os cercava para utilizar madeira para muitas finalidades, principalmente para construir as inúmeras e enormes estátuas, característica marcante da Ilha que hoje atraem turistas do mundo todo. Com o crescimento populacional exponencial e desmatamento desenfreado, aliado ao fato de as ilhas serem ambientes fechados e isolados, o meio ambiente foi sendo modificado até atingir o ponto crítico, ou ponto de ruptura, no qual o equilíbrio do ecossistema é perdido. Hoje gramíneas substituem a floresta úmida original. Infelizmente, esse processo ocorre em ecossistemas do mundo todo. Na Amazônia, se o desmatamento atingir ≥40% poderá haver um processo de desertificação que levará a floresta ao ponto crítico. Inúmeros focos de incêndios e o avanço da agricultura assolam a Floresta Amazônica e vemos o ponto de ruptura se aproximar, impactando sua imensa biodiversidade e o clima e ecossistemas globais. Muitos pesquisadores sugerem que já atingimos o ponto crítico ambiental mundial e que a estabilidade socioeconômica não mais é possível.
Devemos nos lembrar que apesar de nossas características biológicas primárias, é evidente a nossa evolução de domínio da racionalidade e reconhecimento dos nossos próprios erros. Nos remetermos aos nossos ancestrais e nossas raízes biológicas que nos moldam e explicam padrões podemos a partir daí começar o nosso maior desafio: mudar esses padrões. Nos apropriar dos erros passados e aprender com eles para não mais cometê-los.
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