A vocação da Amazônia
22 de outubro de 2014 |
Reproduzido de www.amazonia.org.br
Como a produção de açaí e essências, o reflorestamento e – acredite – as hidrelétricas podem gerar renda e emprego na região e criar alternativas econômicas que convivem bem com a floresta
O caminho de destruição da riqueza natural da Amazônia é conhecido. Começa com as madeireiras predatórias, que retiram as árvores de valor comercial. Depois vêm os carvoeiros, que queimam a vegetação restante em seus fornos. Por fim, chega o fazendeiro. Ele planta capim, solta o gado e impede a regeneração da floresta. Essa sequência de eventos dura cerca de dez a 15 anos, gera empregos e renda fugazes. Depois, em geral, deixa a região tão pobre quanto começou. O ritmo da devastação caiu 70% nos últimos dez anos, mas continua alto. No ano passado, foi equivalente a quatro vezes o município de São Paulo. Para mudar o rumo da Amazônia, não bastam mais leis severas e fiscalização. É preciso criar alternativas de negócios que gerem mais renda e trabalho com a floresta em pé. Felizmente, essas novas cadeias produtivas já vêm ganhando força. São atividades com potencial para virar vocações sustentáveis para o ambiente e para a população da Amazônia, com benefícios para o resto do país para o mundo. A seguir, alguns dos negócios mais promissores.
AÇAÍ
O verão, estação seca no Pará, vai de julho a dezembro. Nessa época do ano, o entorno da Baía do Guajará, na região de Belém, já respira açaí mal o dia começa. Nos mercados de rua que suprem o consumo local ou nas áreas ribeirinhas, tudo precisa ser feito antes que o sol esquente demais. Em Igarapé-Miri, a 78 quilômetros de Belém, boa parte da população está envolvida na cultura da palmeira de açaí. Em 2012, segundo dados da Empresa de Assistencia Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater-PA), a cidade produziu mais de 160.000 toneladas do fruto. Às margens de um igarapé, o agricultor Luiz Correa amanhece coletando açaí com os dois irmãos na pequena propriedade da família. Por volta do meio-dia, já há 20 latas (de 14 quilos cada uma) do fruto na frente da casa. “Hoje, dá para viver do açaí, e aprendemos como fazer a planta produzir sempre”, diz. “Cortamos as árvores mais velhas, retiramos o palmito, e o resto vira adubo. Sempre cuidando dos brotos, que nascem sozinhos.” Aos 23 anos, ele trabalha desde a adolescência na função. Depois que o açaí se tornou a principal renda da família, eles (Luiz, os pais, quatro irmãos e dois sobrinhos) têm uma casa mais confortável e luz elétrica. Também puderam comprar um barco maior, para que Domingos, pai de Luiz, recolha açaí nas propriedades vizinhas e revenda no porto regional.
A produção depende da floresta saudável. “Como ainda não se obtiveram sucesso e qualidade com a plantação da palmeira em áreas secas, o produto segue extrativista, para ser rentável”, afirma o pesquisador Paulo Amaral, do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Com isso, a opção de desmatar as plantações de açaí é desinteressante. “Na monocultura, a planta fica mais sujeita a doenças e fogo. Por isso, a saída é fazer o manejo sustentável dos açaizais”, afirma João Meirelles, diretor-geral do Instituto Peabiru, ONG dedicada ao trabalho com comunidades da Amazônia. Mesmo para grandes indústrias, o caminho é o extrativismo sustentável. É o caso da Coca-Cola. No segundo semestre do ano passado, ela lançou uma bebida feita da polpa de açaí misturada com banana, pela marca Del Valle. “A premissa é respeitar o potencial local das comunidades com que trabalhamos. Avaliamos antes a disponibilidade para garantir que o produto não sofrerá quebra de safra, nem precise ser descontinuado, e isso prejudique as comunidades”, diz Claudia Lorenzo, diretora de negócios sociais da Coca-Cola.
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E como o açaí, vejam outros exemplos mencionados nessa matéria:
A indústria de cosméticos e perfumes sabe, não é de hoje, que a Amazônia está cheia de ingredientes ricos e rentáveis. Uma das fragrâncias mais famosas do mundo, o Chanel no 5, usa em sua fórmula a essência do pau-rosa. Antes extraída da madeira, hoje vem de folhas dessa espécie, nativa da floresta. Nomes como andiroba, castanha-do-brasil, buriti, vitória-régia, murumuru, copaíba, cupuaçu e priprioca já são conhecidos do consumidor. Assim como o açaí, são boas alternativas para que a Amazônia dê lucro, gere emprego, s renda e permaneça preservada. Essas essências são o principal sustento de lavradores como Antônio dos Santos, de 62 anos, da comunidade de Campo Limpo, no município de Santo Antônio do Tauá, a 56 quilômetros de Belém, no Pará. Ele trabalha numa cooperativa que planta e extrai espécies como priprioca, capitiú e estoraque para a empresa de cosméticos Natura. “Antes, aqui a gente fazia queimada para plantar feijão, arroz, mandioca. Agora, sabe que dá para o sustento da terra sem destruir”, diz. “Nossos filhos queriam sair daqui para buscar dinheiro nas cidades grandes. Agora, querem continuar nosso trabalho e preservar a natureza daqui.”
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