ALFRED RUSSELL WALLACE: O ESQUECIDO CO-AUTOR DA TEORIA DA EVOLUÇÃO
E como subtítulo (jocoso) poderia ser acrescentado: “a pedra no sapato de Darwin”.
Eu inicio mencionando, com destaque, um dos conselhos dados por Bertrand Russell (matemático e filósofo inglês, de nossa era) que sugeriu (e eu concordo plenamente): “quando você estiver estudando um assunto ou considerando alguma filosofia, pergunte a você mesmo quais são os fatos; olhe apenas e somente para quais são os fatos e qual é a verdade que os fatos revelam; nunca se deixe desviar para o que você gostaria de acreditar ou pelo que você acha que traria benefícios às crenças sociais se fosse acreditado” [Em curto vídeo, se desejar, acesse a entrevista e veja, com atenção, os dois conselhos dados por ele:
E acrescento: texto para ser lido em momento de descontração, com “espírito totalmente desarmado”.
A complexidade e a beleza da vida que se instalou num dos planetas deste universo que hoje pensamos ser o único existente e no qual estamos inseridos, levou Alfred Russell Wallace (o esquecido co-autor da Teoria da Evolução, juntamente com Charles Darwin) a contrapor-se ao princípio mor do darwinismo: a evolução fundamentada no “tudo exclusivamente ao acaso”! E também: “nenhum órgão ou atributo pode existir numa espécie natural a menos que seja ou tenha sido útil aos organismos que os possuem”. É o mesmo que dizer: “nada foi criado com um determinado propósito”!
Diversas conquistas evolutivas (cérebro, com destaque altamente relevante para a visão, a fala, raciocínio, inteligência criativa...) fizeram aquele cientista “irritar” Charles Darwin em suas avaliações sobre o darwinismo. Darwin ao tomar conhecimento da divulgação desse pensamento de Alfred Wallace, chegou até a comentar:
I hope you have not murdered too completely your own and my child. Traduzindo: “Espero que você não tenha matado completamente a sua própria e minha criança”. Dentre esses “avanços” evolutivos destaque foi dado pelo próprio Darwin para explicar os passos evolutivos da visão do ser humano (a Natureza não dá saltos! gostava de dizer meu professor de Zoologia, na Bahia, Dr. Jones Seabra, que como poucos, conhecia com a profundidade do conhecimento disponível dos anos de 1965 a 1968, a evolução em praticamente toda a escala animal). Eis o que Charles Darwin afirmou sobre isso:
To suppose that the eye with all its inimitable contrivances for adjusting the focus to different distances, for admitting different amounts of light, and for the correction of spherical and chromatic aberration, could have been formed by natural selection, seems, I freely confess, absurd in the highest degree. Traduzindo: “Supor que o olho com todos os seus artifícios inimitáveis para ajustar o foco para diferentes distâncias, para admitir quantidades diferentes de luz e para a correção de aberração esférica e cromática, pode ter sido formado pela seleção natural parece, espontaneamente confesso, ABSURDO NO MAIS ALTO GRAU”. [Destaque meu]
Está em inglês, um curto vídeo sobre Alfred Russell Wallace, com análise esclarecedora de Michael Flannery (de cujo livro “Alfred Russell Wallace: A Rediscovered Life” reproduzi alguns trechos, que se seguirão).
https://youtu.be/hxvAVln6HLI
Eis um dos trechos de destaque do livro de Michael Flannery:
One could not, Wallace argued, explain the uniquely human attributes of abstract reasoning, mathematical ability, wit, love of music and musical aptitude, art appreciation and artistic talent, and moral sense as necessary for survival in a state of pure nature through which (by Darwin’s own principle) natural selection must operate. Therefore, some other cause or action must be invoked. That cause of action Wallace called “an Overruling Intelligence”.
Resumindo o que Wallace afirmou: “Não se poderia explicar exclusivamente que atributos de raciocínio abstrato, habilidade matemática, bom senso, amor à música e aptidão musical, apreciação à arte e talento artístico e senso moral como necessários à sobrevivência num estado de natureza pura através da qual (pelo princípio do próprio Darwin) a seleção natural devesse operar. Portanto, alguma outra causa ou ação precisa ser invocada. Essa causa de ação, Wallace chamou de ‘inteligência soberana’”.
E ainda destaca Wallace: How can we conceive that early man, as an animal, gained anything by purely erect locomotion? Again, the hand of man contains latent capacities and powers which are unused by savages, and must have been even less used by palæolithic man and his still ruder predecessors. It has all the appearance of an organ prepared for the use of civilized man, and one which was required to render civilization possible”. The teleology implied in “prepared” is unmistakable. Traduzindo: “Como podemos conceber que o homem primitivo, como um animal, ganhou algo puramente devido à locomoção ereta? Novamente, a mão do homem contém capacidades latentes e poderes que são inúteis aos selvagens, e devem ter sido até menos utilizados pelo homem paleolítico e seus ainda mais rudes predecessores. Ela tem toda a aparência de um órgão preparado para o uso pelo homem civilizado e um homem do qual se exigisse possível civilização. A teleologia implicada em “preparado” é inconfundível”.
[Teleologia, significado: Ciência que se pauta no conceito de finalidade (causas finais) como essencial na sistematização das alterações da realidade, existindo uma causa fundamental que rege, através de metas, propósitos e objetivos, a humanidade, a natureza, seus seres e fenômenos.]
De fato, como aponta Michael Flannery, torna-se um tanto quanto difícil explicar tais habilidades do ser humano terem se desenvolvido através do princípio da sobrevivência do mais apto, como preconiza o darwinismo!
Mas agora eu questiono: “teria o cérebro humano ao longo do processo evolutivo fundamentado exclusivamente na vitória do mais apto, se estruturado de maneira que no futuro pudesse desenvolver todos esses atributos inerentes ao ser humano com todas as habilidades que hoje ostentam”? Se assim tivesse sido, aparece nesse questionamento um “propósito para atingir um fim”; e não é assim que é preconizado no processo de seleção natural. Nesse caso então... “teria sido tudo ao acaso”.
E em assim sendo, esse “ao caso” teria também ocorrido com a fabulosa organização do universo, fortemente enfatizada por Albert Einstein quando disse: “quero conhecer as ideias de Deus de forma matemática”. Reconhecer a majestosidade do universo, apreciar e reverenciar a beleza da Natureza em todos os seus detalhes, como o fez Wallace quando perguntou “você já observou a pena de um pássaro? composta de mais de um milhão de peças...nenhum homem poderia fazer tal coisa... dotada de um material tão leve que um dedo pode separar suas partes e que logo retornam à forma normal...e que é capaz de elevar o pássaro às alturas, sendo hermética e impermeável... uma vestimenta perfeita”! Tal capacidade de apreciação é, sem dúvida, um atributo do ser humano.
Afirmou Wallace: Nothing in evolution can account for the soul of man. The difference between man and the other animals is unbridgeable. Traduzindo: “Nada na evolução pode contabilizar a alma do homem. A diferença entre o homem e outros animais é intransponível”.
Diversos outros aspectos intrigantes, questionando a “evolução, por acaso e necessidade”, provocariam abordagens e discussões pró e contra o darwinismo. Um desses relaciona-se ao aparecimento do sexo na maioria dos mais variados grupos de organismos; e do dimorfismo sexual. Mais de 99 por cento dos eucariotos reproduzem-se sexualmente, tendo para isso ocorrido adaptações comportamentais, fisiológicas e bioquímicas. Altos custos quando comparados com a reproduçåo assexuada. Por quê tais organismos, à medida que foram surgindo, se tornaram bissexuados?
Não é objeto destas breves considerações sobre o co-autor da teoria da evolução, tecer comentários sobre esse tema, ainda pouco compreendido. A meu ver, extremamente intrigante!
O astrofísico norte-americano Michio Kaku fez a seguinte observação: “Einstein escreveu uma vez que acreditava no Deus de Espinoza que se revela a Si próprio na harmonia daquilo que existe, não num Deus que se preocupa com o destino e as ações dos homens”.
E o próprio Michio Kaku nos chamou a atenção para a complexidade desse componente grandioso da Natureza: “O cérebro humano pesa somente 1.360 gramas, embora seja o mais complexo objeto no sistema solar”.
Desfrutemos portanto, nós seres humanos, desse presente exclusivo que recebemos de quem e de onde nunca saberemos, de maneira harmoniosa com todos nossos companheiros e componentes não vivos da Natureza, numa viagem pacífica indefinida no tempo e limitada no espaço e nos recursos disponíveis!
Breno Grisi.
JP, março 2019.
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