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Nesta quarta-feira (15), as agências federais americanas Nasa e Noaa e a Organização Meteorológica Mundial confirmaram o recorde, que já havia sido indicado na semana passada pelo serviço europeu Copernicus. Segundo a Nasa, no ano passado a Terra teve temperatura média 0,98oC mais alta do que a média do século 20. A Noaa, que usa uma metodologia ligeiramente distinta, pôs a diferença em 0,95oC – e 1,15oC acima da média pré-industrial.
Em ambos os casos, trata-se do segundo ano mais quente desde o início das medições com termômetros, em 1880. Perde apenas para 2016, e por uma diferença pequena de 0,04o C. A década de 2010 foi a mais quente de todos os tempos – os últimos cinco anos foram todos os mais escaldantes desde o início das medições.
“Nós entramos no território do aquecimento de mais de 2 graus Farenheit (1oC) e isso dificilmente tem volta”, afirmou ontem a jornalistas o climatologista Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais, da Nasa. “Isso mostra que o que está acontecendo é persistente, e não uma oscilação devida a algum fenômeno meteorológico: nós sabemos que as tendências de longo prazo estão sendo provocadas pelo aumento nos níveis de gases de efeito estufa na atmosfera”, prosseguiu.
Segundo a Noaa, 2019 foi o 43o ano consecutivo em que as temperaturas ficaram acima da média. Também foi o ano em que os oceanos acumularam mais calor em toda a série histórica.
O acúmulo de calor nos oceanos tem dois efeitos: ele ajuda a elevar o nível do mar, por expansão térmica (fenômeno análogo ao que ocorre numa chaleira com água quente, em que o nível do líquido aumenta), e também serve de combustível para supertempestades. O ciclone Idai, que atingiu Moçambique e arrasou a cidade de Beira, em março, e a tempestade tropical Iba, que se formou na costa da Bahia no mesmo mês, são exemplos. Foi a primeira vez desde 2010 que uma tempestade tropical (tormenta da mesma categoria que furacões, tufões e ciclones) se formou no Atlântico Sul. Iba não chegou a ganhar força de furacão – teria sido o segundo registrado no Brasil, após o Catarina, em 2004.
Além de muita água, os eventos extremos de 2019 mandaram também muito calor e fogo para diferentes partes do planeta. A Europa foi assolada por duas ondas de calor, em junho e em julho, causando incêndios na Sibéria e recordes históricos de temperatura em vários lugares – inclusive 42,6oC em Paris. A Califórnia viveu mais um ano de incêndios graves, que já se tornaram endêmicos. E, desde setembro, a Austrália vive uma seca severa, que causou a catástrofe humanitária e ecológica dos incêndios, que se agravaram na virada do ano.
“Na atual trajetória de emissões, estamos no rumo de um aumento de temperatura de 3oC a 5oC até o fim do século”, disse o finlandês Petteri Taalas, diretor-executivo da OMM.
Pelo Acordo de Paris, a humanidade se comprometeu a limitar o aquecimento abaixo de 2oC e a fazer esforços para limitá-lo em 1,5oC. A própria ONU, porém, já admite que é improvável alcançar este objetivo. Segundo um relatório lançado em novembro pela ONU Meio Ambiente, para o mundo ter chance de se manter em 1,5oC, seria preciso cortar emissões de gases de efeito estufa em 7,6% ao ano todos os anos daqui até 2030. Nem mesmo o pico global de emissões foi alcançado ainda – que dirá tamanho declínio.
As negociações internacionais sobre a implementação do Acordo de Paris fizeram água no ano passado, com o fracasso da COP25, a conferência do clima do Chile-Madri. Neste ano, na COP26, todos os países foram convidados a submeter novas metas nacionais (NDCs), de forma a aumentar a ambição global. Apenas 108 disseram ter intenções de fazê-lo, e nenhum deles é um grande emissor: junta, essa centena de nações representa apenas 15% das emissões mundiais.
Pior ainda, o negacionismo sobre as mudanças do clima acompanha a ascensão da extrema-direita pelo mundo. Grandes poluidores como os EUA, a Austrália e o Brasil têm governos negacionistas. Todos os três se empenharam para produzir um fiasco no ano passado em Madri.
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