Philip Martin Fearnside é um dos cientistas contemplados com o Prêmio Nobel da Paz concedido ao Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), com sede em Manaus, no Amazonas, ele vive na região amazônica desde a década de 70. Podemos dizer que o norte-americano é uma testemunha viva dos grandes impactos socioambientais que ocorrem na região, como as aberturas de rodovias, entre elas, a Transamazônica (BR-230) e a BR-174, que cortou as terras dos indígenas Kinja (Waimiri Atroari) ao meio e quase dizimou a etnia. Também estudou os impactos das construções das hidrelétricas de Balbina, no Amazonas, Tucuruí e Belo Monte, ambas no Pará, Santo Antônio e Jirau, em Rondônia.
Doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, autor de centenas de artigos científicos sobre os desmatamentos, queimadas e mudanças climáticas, Fearnside acompanha a cada ano a chamada “temporada das queimadas” na Amazônia. “Há sinais de que o ano Prodes de 2021, que está iniciando este mês de agosto, pode ser ainda pior”, alerta o pesquisador, que é também colunista da agência Amazônia Real.
O Prodes é o Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que deste 1988 detecta com muita precisão a taxa de desmatamento anual na região amazônica. No período de 2019 a agosto de 2020 a floresta perdeu 9,2 mil quilômetros quadrados, uma área equivalente a seis vezes o tamanho do município de São Paulo.
Com o aumento dos desmatamentos, as queimadas chegaram ao ápice no mês de julho. Estados como Pará, Amazonas e Mato Grosso, que abrigam a maior parte de florestas nativas do bioma Amazônia, têm respectivamente 30%, 26% e 3% mais focos de calor este ano do que os registrados no mesmo período de janeiro a agosto de 2019. Os dados são do Inpe.
Além do desmonte da política ambiental no governo de Jair Bolsonaro (sem partido), para Philip Fearnside é o discurso do próprio presidente que “encoraja o desmate”. O cientista diz isso porque o governo mantém as tropas federais na região para impedir os desmatamentos. Já proibiu a queimada da floresta pela agropecuária, mas nada parece mudar. As Forças Armadas estão na área sob o comando do vice Presidente general Hamilton Mourão. À frente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, o militar tem sido cobrado pelos empresários do agronegócio por causa do aumento dos desmatamentos, pois países que importam os produtos do setor ameaçam boicotar o Brasil por causa da política anti ambientalista de Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Para Fearnside, com a pandemia do novo coronavírus o momento ficou mais crítico na Amazônia e o “governo precisa reconstruir tudo que foi desmontado na área ambiental e depois fortalecer esta área mais ainda”. Sobre Salles, o cientista é taxativo: “precisa [Bolsonaro] trocar imediatamente o ministro do meio ambiente por uma pessoa com compromisso com a área ambiental”, diz. Leia toda a entrevista em
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