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21 de jul. de 2021

AMAZÔNIA BRASILEIRA EM CONTÍNUO PROCESSO DE DEGRADAÇÃO: MAIS UMA AVALIAÇÃO APONTANDO A GRAVIDADE DA SITUAÇÃO

 Reproduzido de:

https://amazonia.org.br/a-amazonia-esta-morrendo-e-o-brasil-e-o-principal-culpado-diz-cientista-do-inpe/




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Destaques:

De 2010 a 2018, a equipe comandada por Gatti mediu os níveis de dióxido de carbono em quatro localidades da Amazônia e concluiu que as regiões com as maiores taxas de liberação do gás de efeito estufa, na parte leste do bioma, são as que mais sofreram desmatamento. A porção sudeste, que abrange o sul do Pará e o norte do Mato Grosso, é a mais afetada e está em situação de emergência. “Estamos perdendo a floresta amazônica nessa região”, alerta a cientista.

Para frear o processo, Gatti defende a moratória do desmatamento e das queimadas por pelo menos cinco anos em toda a Amazônia, mas sobretudo na região sudeste, que precisa imediatamente também de projetos de recuperação florestal. “Num cenário desses, tenho fé que exista possibilidade de retorno”, afirma a pesquisadora. No entanto, ela vê distância entre a atual política ambiental e as medidas necessárias. “O Brasil tem um papel central e com certeza uma responsabilidade muito maior, porque não só temos a maior parte da Amazônia, como também a maior parte do desmatamento e das queimadas está aqui dentro. E o governo está fazendo o inverso do que deveríamos estar fazendo.”

Por que a Amazônia deixou de atuar como um “sumidouro” de carbono e passou a emitir mais CO2 do que absorver? 

O que a gente encontrou é que as áreas que estão muito desmatadas – dentro da nossa amostragem de quatro lugares de estudo –, em torno ou acima de 30%, já mostram uma mudança na condição [de absorver carbono] muito grande na estação seca. A teoria que elaboramos é de que a condição de seca extrema todo ano em agosto, setembro e outubro estava levando a floresta, além de reduzir a absorção, a aumentar a mortalidade [das plantas]. Imagina uma árvore: na super seca, com uma disponibilidade de água minúscula, no mínimo as folhas começam a ficar marrons, a cair e tem espécie que chega a hibernar: caem todas as folhas e elas param de fazer fotossíntese, mas continuam respirando. Sob estresse muito grande, a gente entende que as plantas não só emitem mais carbono do que absorvem, mas chegam até a morrer. Na parte sudeste da Amazônia [que compreende o Sul do Pará e o norte do Mato Grosso], onde observamos o maior aumento de temperatura, aumentou em agosto, setembro e outubro 2,5 graus. Se a gente olhar só agosto e setembro, aumentou 3,1 graus Celsius nos últimos 40 anos, e reduziu 24% de chuva. Imagina uma floresta tropical úmida: como é que uma árvore típica de uma região com abundância de chuva e temperaturas amenas vai sobreviver numa situação dessas? O que começa a acontecer é que as árvores mais sensíveis morrem e só as mais resistentes sobrevivem.

Até o momento, o que é possível afirmar sobre os principais fatores para essa mudança?

Basicamente, desmatamento e queimadas, porque eles vão mudar o clima, principalmente na estação seca. E aí entra na bola de neve. A estação seca vai fazer a floresta ficar cada vez mais fácil de queimar, e a coisa só se retroalimenta.

Como a degradação florestal causada pelo desmatamento reduz a capacidade da floresta amazônica de absorver carbono?

Tem um estudo orientado pelo professor Luiz Aragão [também pesquisador do Inpe e um dos autores do estudo liderado por Gatti] sobre uma floresta primária [aquela que nunca foi desmatada] que queimou. Num primeiro momento, essa floresta queima e joga CO2 na atmosfera, mas não para por aí, pois ao longo dos trinta anos seguintes uma parte dela vai morrer e provocar emissões por decomposição, que representam 72% do total das emissões – isso significa que não há liberação de carbono apenas no momento em que a floresta queima. Há ainda outra informação: o tanto que essa floresta se recupera equivale apenas a um terço do total das emissões. A floresta queimada representará um grande volume de emissões que não está sendo computado e que, pelo jeito, é até maior do que o proveniente de desmatamento, quando o tronco, que é o grosso da massa de carbono, vai para venda. A degradação faz com que, no ano seguinte [ao desmatamento], haja menos árvores para evapotranspirar e, por consequência, menos chuva, temperaturas mais altas e uma floresta ainda mais seca, o que fará com que o fogo se alastre mais rapidamente. É fácil da gente concluir que a degradação, nas regiões com um volume de desmatamento muito alto, é muito superior às regiões com taxas menores de desmatamento.

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