Pesquisa da Amazônia 2030 mapeou, em área já desmatada, vegetação secundária com mais de 6 anos em processo de regeneração natural. Isso mostra uma grande oportunidades de regularização ambiental com baixo custo
A Amazônia brasileira conta com 7,2 milhões de hectares com vegetação secundária, em áreas já desmatadas, com mais de 6 anos de idade, que passam hoje por um processo natural de regeneração. Se for mantida, essa vegetação secundária pode voltar a adquirir as características de floresta madura. Isso representa uma grande oportunidade para o Brasil: permitirá ao país recuperar passivos florestais e cumprir com as metas nacionais de restauração florestal e de redução de emissões líquidas de carbono em larga escala. Isso porque o território que pode ser recuperado é equivalente ao tamanho da Irlanda.
Se forem protegidas, essas áreas com vegetação podem representar 60% da meta que o país assumiu em 2015 perante a Organização das Nações Unidas (ONU) — quando se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de mata nativa até 2030. Além disso, esse território é superior ao objetivo específico estabelecido na ocasião para o bioma amazônico, que prevê o restauro de 4,8 milhões de hectares.
Esse dado foi evidenciado pelo estudo “Restauração florestal em larga escala na Amazônia: o potencial da vegetação secundária”, liderado pelos pesquisadores do Imazon Andreia Pinto e Paulo Amaral. O trabalho foi realizado dentro do projeto Amazônia 2030, que busca traçar metas para o desenvolvimento da região até essa data.
Regeneração natural é mais barata que plantio de mudas
O objetivo era mapear as áreas com vegetação secundária com o potencial de contribuir com o processo de restauração florestal em larga escala na Amazônia. Isso porque o processo de restauração florestal por meio da condução da regeneração natural é mais barato que o método que recorre ao plantio de mudas.
Na região amazônica, explicam os pesquisadores, é corriqueiro que agricultores recorram à técnica do “pousio”: quando suspendem os cultivos agrícolas num dado terreno por até 5 anos, de modo a permitir que o solo descanse. Depois de 5 anos, esses terrenos voltam a ser cultivados. Por isso, o mapeamento se concentrou na identificação da vegetação secundária com 6 anos ou mais.
Das áreas mapeadas, 76% estão concentradas em três dos noves estados que compõem o bioma Amazônia: Pará (42%), Mato Grosso (17%) e Amazonas (17%). Aproximadamente 7% — cerca de 475 mil hectares — dessa vegetação ocorre nas faixas de Áreas de Proteção Permanente (APPs) hídricas. O restante está em áreas com declives (com baixa aptidão agrícola) e em áreas com potencial para Reserva Legal.
Uma parte considerável da área em regeneração natural oferece oportunidades para proprietários rurais ou assentados. Cerca de 26% das áreas estão em imóveis com titulação fundiária e 15% em assentamentos rurais. Além disso, cerca de 11% da vegetação em recuperação está em terras com Cadastro Ambiental Rural (CAR), o que indica a presença de algum interessado em sua posse.
Regeneração pode trazer benefícios aos agricultores
De acordo com os pesquisadores, as medidas necessárias para proteger essa vegetação variam a cada região. Mais da metade dela, no entanto, pode se beneficiar da expansão de políticas como o Cadastro Ambiental Rural e o Programa de Regularização Ambiental. Para funcionar, ambas dependem da adesão dos proprietários rurais.
A regeneração da floresta pode trazer benefícios para o agricultor, destacam Andréia e Amaral. É possível explorar economicamente os produtos da floresta secundária. E as áreas reflorestadas podem ser aproveitadas no mercado de compensação de reserva legal. Nesse último caso, agricultores cujas propriedades não têm reserva — a porção de mata nativa que, por lei, deve permanecer de pé — pagam pelos serviços ambientais de proprietários que preservam a floresta.
Conheça o AMAZÔNIA 2030
Iniciativa conjunta do Imazon, do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, da Climate Policy Initiative (CPI) e do Departamento de Economia da PUC-Rio, o projeto Amazônia 2030 busca desenvolver um plano de ações para a região no país. Realizado por pesquisadores brasileiros, tem como objetivo que o território tenha condições de alcançar um patamar maior de desenvolvimento econômico e humano e atingir o uso sustentável dos recursos naturais em 2030.
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