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30 de mar. de 2022

...MATA ATLÂNTICA NO NORDESTE: RESISTINDO DESDE O DESCOBRIMENTO!!!

Reproduzido de: https://oeco.org.br/reportagens/mata-atlantica-nordestina-a-ferro-fogo-e-resistencia/ OBS.: A FERRO E FOGO (importante obra de Warren Dean, sobre a destruição da Mata Atlântica).
"Sabe-se o que era a mata do Nordeste, antes da monocultura da cana: um arvoredo ‘tanto e tamanho e tão basto e de tantas prumagens que não podia homem dar conta’. O canavial desvirginou todo esse mato grosso do modo mais cru: pela queimada. […] Só a cana devia rebentar gorda e triunfante do meio de toda essa ruína de vegetação virgem e de vida nativa esmagada pelo monocultor”. Com essas palavras, o escritor pernambucano Gilberto Freyre, autor do clássico Casa-Grande & Senzala (1933), resumiu a principal causa recente da devastação da Floresta Atlântica nordestina, em seu livro Nordeste (1937). Ele foi, em sua época, um dos grandes questionadores da destruição das matas, na primeira metade do século XX. E até hoje, esse pouco de floresta remanescente continua se perdendo. Segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica – período 2019-2020, os estados do Ceará, Alagoas e Rio Grande do Norte estão entre os dez que tiveram aumento no desmatamento entre 2019 e 2020. Atualmente, a cobertura vegetal da floresta atlântica nordestina é basicamente formada por um arquipélago de pequenos fragmentos florestais, que geralmente não chegam a 50 hectares, circundados por uma imensidão de plantações de cana-de-açúcar, pastagem e outras culturas, o que representa uma grande ameaça para a biodiversidade local. Para Severino Pinto, diretor-presidente do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), essa floresta é um “hotspot dentro de um hotspot”, ou seja, é uma área com alta biodiversidade, rica em espécies endêmicas e altamente ameaçada dentro da já crítica Mata Atlântica. “Os serviços ambientais prestados por essa floresta são importantíssimos para processos econômicos e de provisão da região. Contudo, é um paciente na UTI, e seu suprimento de oxigênio vem sendo reduzido continuamente”. Centro de Endemismo Pernambuco Na Mata Atlântica do Nordeste uma porção merece destaque especial. Localizada ao norte do rio São Francisco, abrangendo os litorais dos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, com pequenos encraves interiores de florestas de várzea e altitudinais no Ceará e Piauí conhecidos como brejos de altitude, está uma floresta que abriga várias espécies endêmicas [que só existem nessas áreas], muitas delas ameaçadas de extinção. Essa região constitui um importante centro de endemismo na América do Sul, o Centro de Endemismo Pernambuco (CEP). O professor Marcelo Tabarelli, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), explica que o termo foi criado pelo botânico Ghillean Prance, que trabalhou na região Neotropical nos anos 70. “Quando o ornitólogo José Maria Cardoso da Silva e eu começamos a trabalhar na UFPE, em 1998, percebemos que existia sim um Centro de Endemismo, não restrito a Pernambuco, mas na floresta atlântica ao norte do rio São Francisco”. O pesquisador explica que há um conjunto de espécies, de vários grupos, que permite um reconhecimento do CEP como uma unidade biogeográfica distinta da Mata Atlântica. “Ela difere da floresta ao sul do São Francisco porque é muito mais um prolongamento da floresta amazônica do que uma expansão da floresta atlântica do sul e sudeste. É mais uma floresta amazônica no Nordeste do que uma expansão da Mata Atlântica”. ... Os grandes remanescentes Os maiores remanescentes florestais do CEP são a Estação Ecológica de Murici (AL), com 6.131 hectares, e a Reserva Biológica Pedra Talhada (AL/PE), com 4.469 hectares. A Área de Proteção Ambiental (APA) de Murici engloba dez municípios, incluindo os três que compõem a ESEC Murici. Ela conta com 133 mil hectares, sendo o maior fragmento ao norte do rio São Francisco. De acordo com Marco Freitas, gestor da ESEC Murici, a região é a mais importante das três Américas para conservação de aves. A ESEC, que foi criada em 2001 por um pedido pessoal do príncipe inglês Charles, praticante de birdwatching, abriga mais de 17 aves ameaçadas globalmente e 31 em nível nacional. A ESEC também possui a maior riqueza de herpetofauna dentre as UCs do Brasil, com 58 anfíbios (sete ameaçados e dois endêmicos) e 89 répteis (três ameaçados e um endêmico). Diversas ações vêm ocorrendo para conservação dessas áreas tão fundamentais. Há, por exemplo, a proposta de criação de um corredor ecológico ligando Murici à Serra do Urubu, um dos maiores remanescentes de Pernambuco, com quase mil hectares. Pedro Develey, diretor executivo da SAVE Brasil, falou sobre o sonho de reconectar as duas áreas. “Tudo começou no início da SAVE, com a criação da ESEC Murici. Em 2004, a SAVE adquiriu uma porção de floresta na Serra do Urubu, a RPPN Pedra D’Antas. Há dois anos e meio, ampliamos o projeto, mapeamos áreas e falamos com proprietários. Há ainda um passivo de 30 mil hectares que deveriam ser Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais, isso precisa ser regulamentado”. ...

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