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30 de mar. de 2023
UMA QUESTÃO DE SEGURANÇA NACIONAL: CONTRABANDO DE AGROTÓXICOS
REPORTAGEM COMPLETA EM:
https://oeco.org.br/
DESTAQUES
Fronteiras entre países do Mercosul (Mercado Comum do Sul) têm uma vida econômica própria onde subsistem distintos personagens. Uma parte importante da força comercial é conectada ao tráfico de produtos por essas bordas nacionais, o que mantém uma grande indústria ilegal na região.
No centro da América do Sul, a tríplice fronteira entre as cidades de Foz do Iguaçu (Brasil), Puerto Iguazú (Argentina) e Ciudad del Este (Paraguai) é um "hotspot" para crimes de toda sorte. A cidade paraguaia de cerca de 250 mil habitantes é ligada ao Brasil pela “Ponte da Amizade”.
Diariamente cruzam por ela mais de 40 mil veículos e mais de 80 mil pedestres. Conectando Argentina e Brasil na mesma região, a “Ponte da Fraternidade” recebe 5 mil veículos diários. A fronteira Brasil-Uruguai se estende por toda a borda sul do estado brasileiro do Rio Grande do Sul.
As mercadorias chegam a Ciudad del Este de diferentes partes do mundo através da alfândega municipal ou da aduana do Aeroporto de Guarani, a 15 quilômetros por rodovias.
As 3.366 toneladas de agroquímicos que chegaram ao Paraguai por estes dois portos representam 27% de todas as importações do país em 2022, diz a Direção Nacional de Aduanas (DNA).
Ao mesmo tempo, as apreensões de agroquímicos (agrotóxicos, fertilizantes e outros itens usados em lavouras) dispararam nos últimos anos – 29 mil garrafas, caixas e sacos foram confiscados em 2022, no lado brasileiro. Tudo vinha do Paraguai.
Trata-se de um aumento de 549% sobre o total apreendido em 2021, em torno de 4.500 itens.
Cenário mafioso
Comandante do Batalhão de Fronteira da Polícia Militar no Brasil, André Dorecki não tem dúvidas de que o contrabando de agroquímicos se uniu ao crime organizado, que controla as rotas ilegais ao longo da borda Paraguai – Brasil.
A maioria dos crimes envolve maconha e cigarros e estão ligados ao narcotráfico em 139 cidades monitoradas pelo Batalhão, no estado brasileiro do Paraná. Na maioria das apreensões dos últimos anos havia agroquímicos.
Uma fonte policial paraguaia – não identificada para sua segurança –, diz que o valor dos agroquímicos despertou o interesse de quadrilhas. Na região do Alto Paraná, esses produtos são roubados até de fazendas. O mesmo ocorre no estado argentino de Misiones, limítrofe ao Brasil e ao Paraguai.
“Apenas um produtor perdeu quase US$ 50 mil (R$ 260 mil ou ₲$ 358 milhões de Guaranis) de agroquímicos”, diz Rubén Sanabria, engenheiro e diretor da Coordenadoria Agrícola do Paraguai (CAP), uma associação privada de produtores rurais.
Em fevereiro de 2020, autoridades paraguaias apreenderam quase 20 mil caixas de cigarros e 103 caixas de agroquímicos. A operação Reserva foi realizada por militares, agentes da DNA e do Ministério Público Federal do Paraguai.
Na ocasião, cinco armazéns na cidade de Salto del Guairá, também limítrofe do Brasil, foram invadidos. Até então, foi a maior operação anti-contrabando do governo Mario Abdo Benítez, empossado em agosto de 2018.
O tráfico de agroquímicos também pode manchar a imagem do setor agrícola. “Queremos acabar com a ideia de que os produtores [rurais] são culpados, que há muito contrabando disto e daquilo. Não são eles que trazem a mercadoria”, diz Sanabria, da Coordenadoria Agrícola Paraguaya (CAP).
“Os órgãos do Estado paraguaio têm que controlar [a criminalidade]. Nós produtores somos frequentemente subjugados pelas autoridades”, completa.
A poucos quilômetros de Ciudad del Este, um gigantesco armazém da Receita Federal do Brasil acumula mercadorias apreendidas. A grande maioria veio do Paraguai. Os itens ficam ali até serem leiloados ou destruídos – como no caso de agroquímicos.
Em 2021, oito toneladas desses produtos foram eliminadas. Em 2022, a quantidade saltou para 52 toneladas. O crescimento de quase 600% superou o de qualquer outro produto ilícito, incluindo a maconha.
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