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31 de out. de 2010
O PEIXE CORRETO PARA UMA ALIMENTAÇÃO HUMANA SUSTENTÁVEL
Este ensaio é baseado em artigo-reportagem publicado em “National Geographic” (outubro/2010).
Peixe em conserva (em lata): comer sardinhas ou arenques é “mais sustentável” do que comer atum.
Vamos começar relembrando uma cadeia alimentar aquática, com seus NÍVEIS TRÓFICOS 1, 2, 3 e 4. Iniciamos portanto com o NÍVEL TRÓFICO 1 ou produtores primários, o fitoplâncton, constituído pelas algas, que se constituem na base da produção dessa cadeia, necessitando para sobreviver apenas da água, de nutrientes nela contidos e da energia solar. Vem agora o NÍVEL TRÓFICO 2 ou consumidores de primeira ordem, também chamados de herbívoros porque se alimentam dos componentes do fitoplâncton (vegetais), necessitando portanto destes produtores para sobreviver; são exemplos os componentes do zooplâncton e peixes como as enchovas (as enchovas peruanas formam o maior volume em pescado, do mundo). Segue-se agora o NÍVEL TRÓFICO 3 da cadeia alimentar, constituído pelos consumidores de segunda ordem ou carnívoros de primeira ordem porque são os primeiros componentes da cadeia que para sobreviver necessitam alimentar-se da “carne dos herbívoros” (ou consumidores de primeira ordem); são exemplos as sardinhas e os arenques (pequenos peixes gordurosos; dentre as 15 espécies conhecidas a mais abundante é a do Atlântico Norte), assim como a lula. O bacalhau também é deste nível trófico. No NÍVEL TRÓFICO 4 estão os predadores do topo da cadeia alimentar ou consumidores de terceira ordem, destacando-se aqui o salmão e o atum como principais exemplos.
Conjugada a essa cadeia alimentar a Natureza dotou o sistema aquático de uma intricada rede alimentar, onde diferentes espécies se alimentam de outras espécies dos níveis tróficos que lhe antecedem. Assim sendo, a baleia cachalote (com cerca de 18m de comprimento, com cabeça de forma quase quadrada, constituindo 40% do seu peso total, contendo o espermacete, que produz substância oleosa permitindo-lhe mergulho em grande profundidade e equilíbrio) é um grande predador de diversos componentes dos níveis tróficos que lhe antecedem. Aves piscívoras atuam nessa rede, como o albatroz.
A maior preocupação atual entre os ecólogos, em termos de rendimento energético, reside no fato de que o maior consumo pelos seres humanos vem sendo dos peixes do topo da cadeia alimentar. Neste aspecto há os seguintes valores a se considerar: (i) o total que cada país consome, em toneladas anuais de peixes; e (ii) o que representam esses valores em termos de produção primária, ou seja, quando alguém consome um peixe do topo da cadeia alimentar, esse peixe requer exponencialmente mais energia para sobreviver do que um peixe situado num dos níveis tróficos anteriores. Assim sendo, vejamos alguns exemplos mundiais. A China, que é o maior consumidor mundial de pescados, consome 13,6 milhões de toneladas, resultantes de 694 milhões de toneladas da produção primária (este é o “seafood print”, assim chamado por Paul Greenberg, responsável por esse estudo; seria em português a “pegada dos frutos do mar”). O Japão vem em segundo lugar, com um consumo de 9 milhões de toneladas anuais de peixes (embora sejam lá pescados anualmente pouco mais da metade: 5 milhões de toneladas), resultantes de uma produção primária de 582 milhões de toneladas. Nos Estados Unidos também há a tendência de maior consumo dos peixes do topo da cadeia alimentar. Esse país, terceiro maior consumidor mundial, é responsável pelo consumo de 4,7 milhões de toneladas, resultantes de uma produção primária de 348,5 milhões de toneladas. Seguem-se em termos de consumo de peixes (em milhões de toneladas): Indonésia 3,6; Índia 3,1; Coréia do Sul 2,7; Tailândia 2,4; Rússia 2,1; Filipinas 2,1; Nigéria 1,8; Espanha 1,6; Taiwan 1,5; Reino Unido 1,5; Noruega 1,4 e outros menores consumidores, sendo o Chile (1,3) o maior consumidor da América do Sul.
Eis um exemplo prático da contribuição do ser humano na cadeia energética do sistema aquático, quando peixe for consumido como alimento: se você começar seu consumo pelos peixes do topo da cadeia alimentar, quando você comer 0,45kg de peixe do NÍVEL TRÓFICO 4, esse peixe consumiu 4,53kg de peixes do NÍVEL TRÓFICO 3. Estes, por sua vez, consumiram 45,35kg de peixes do NÍVEL TRÓFICO 2. Estes consumiram 453,59kg dos componentes do NÍVEL TRÓFICO 1, ou seja, dos produtores primários. Mas se você começar seu consumo pelos peixes do NÍVEL TRÓFICO 3, comendo 0,45kg de peixes desse nível, terão esses peixes se alimentado de 4,53kg do NÍVEL TRÓFICO 2, que por sua vez se alimentaram de 45,35kg dos produtores primários, ou NÍVEL TRÓFICO 1. Representando esta última opção, um valor 10 vezes inferior, em termos energéticos, à primeira opção.
Conclusões importantes: o aumento do consumo mundial dos peixes do topo da cadeia alimentar (NÍVEL TRÓFICO 4) principalmente nos países mais ricos, onde há mais pessoas de maior poder aquisitivo, acelerado por exemplo pela disseminação do hábito alimentar asiático de consumo do “sushi” (atum) e do atum ao invés da sardinha, certamente levará as pessoas dos países em desenvolvimento, com menor poder aquisitivo, a terem seus estoques dos níveis tróficos inferiores, ESGOTADOS. O cultivo de peixes, poderá não solucionar completamente o problema, uma vez que não se cultivam todos os peixes que servirão para alimentar os do topo da cadeia. Estes continuarão a ser retirados do mar.
Estima-se que a pesca mundial nos oceanos supera as 77 milhões de toneladas anuais. A moratória à pesca dos predadores do topo da cadeia alimentar é inevitável.
A figura anexada mostra o aumento da pesca mundial nos oceanos.
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