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13 de abr. de 2023
GARIMPOS EM TERRAS DOS YANOMAMI: NADA FÁCIL ACABAR
Boa Vista (RR) – Em um vídeo obtido com exclusividade pela Amazônia Real, homens aparecem manuseando mangueiras de alta pressão em direção a um barranco de terra. Com a força da água, o barro cede gradualmente. Nas imagens, dois deles avaliam o que cai do lugar e recolhem pedaços, em uma espécie de pré-seleção. O local chama a atenção pela estrutura montada no seio da floresta, com refletores e bombas para manter o garimpo operando no turno da noite, como narra a pessoa que fez a gravação. “Oito da noite, aí menino, mandando ferrado”, diz ela, enquanto os que estão sendo filmados avançam mata adentro. O vídeo foi gravado há duas semanas, na região do Xitei, na Terra Indígena Yanomami (TIY).
Logo após o início da operação emergencial na TIY, os garimpeiros passaram a buscar formas de se manter em atividade. Muitos fugiram para a Venezuela, país fronteiriço. Outros apenas têm se deslocado para áreas mais remotas, porém com o cuidado de fugir da fiscalização. O garimpo ilegal no período da noite tem aumentado. Lideranças de comunidades locais, os tuxauas, têm denunciado o problema. Eles reclamam do barulho de máquinas e da movimentação de homens trabalhando no horário de descanso dos povos da floresta.
“É um esquema dos garimpeiros que já perderam muito dos seus maquinários, aviões e combustível. Então eles criaram estratégias para fazer um trabalho de busca de ouro, exploração de ouro à noite”, explica Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY). “A gente denuncia e a gente sabe que os garimpeiros são muito espertos. Durante o dia é complicado para eles por causa do monitoramento do Ibama e da Polícia Federal [PF].”
A liderança afirma que algumas regiões da TIY continuam sem receber equipes de fiscalização. É isso que permite que o garimpo siga em operação nas regiões do Baixo Catrimani, Missão Catrimani e Alto Catrimani 1. “Nenhuma operação foi realizada lá, nem [no] Apiaú e regiões como Parima 1 e Parima 2”, denuncia Dário Kopenawa, filho do líder e xamã Davi Kopenawa.
“É muito difícil, há 60 homens fazendo operações”, diz o vice-presidente da HAY. Já os invasores são milhares. E, em Roraima, há apenas duas bases de fiscalização fluvial, uma no rio Mucajaí e outra no rio Uraricoera, para vigiar uma área de 9.664.975 hectares, duas vezes maior que a Suíça.
Duas bases de fiscalização
O superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Roraima, Diego Bueno, informou que o conteúdo do vídeo será investigado e admitiu que, de fato, em algumas áreas os garimpeiros continuam por terem “resiliência” e insistirem nas atividades ilegais.
“Nos últimos 60 dias, os alertas [análise espacial e geoprocessamento] diminuíram. Não posso dizer quantas pessoas estão saindo, mas eu garanto que o garimpo está diminuindo, porque as cicatrizes [alertas] dessas que você está vendo aí [se referindo ao vídeo] depois vão aparecer no satélite. Esse buraco que estão fazendo vai aparecer no satélite”, explica Bueno.
Para Dário Kopenawa, “tem que continuar a fazer operações, continuar sobrevoando, continuar monitorando e vigiar o garimpo ilegal”. Na estimativa dele, serão necessários 10 anos para recuperar os danos ambientais e acabar completamente com o garimpo ilegal que explodiu nos últimos quatro anos.
Apesar da indignação, Dário reconhece a dificuldade de corrigir em apenas dois meses o estrago feito nos últimos quatro anos, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Durante 100 dias, ele [Lula] conseguiu fazer bastante ações que prometeu, mas não é fácil para ele porque a situação é muito grande.”
De acordo com Dário Kopenawa, além de políticos, traficantes de drogas ilícitas continuam fortalecendo o garimpo ilegal na TIY. “Os financiadores, pessoas de tráfico de drogas, estão financiando com helicóptero, com avião, combustível, transporte”, afirma.
Logo que assumiu a Presidência, Lula esteve em Roraima com uma comitiva interministerial. Durante a visita, realizada no dia 21 de janeiro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, determinou a abertura de inquérito policial para apurar o crime de genocídio. O Ministério e a PF não responderam à reportagem sobre a instauração do inquérito ou o andamento das investigações.
REPORTAGEM COMPLETA EM
https://amazoniareal.com.br/especiais/100-dias-povo-yanomami/
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