Analistas criticam falta de transparência em dados sobre desmatamento na Amazônia
Last updated 26/11/2014 22:16 BRT
Mariana Della Barba e Rafael Barifouse
da BBC Brasil em São Paulo
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil avaliaram como positiva a queda da taxa de desmatamento na Amazônia, mas acusaram o governo de agir com pouca transparência na divulgação dos dados oficiais.
Nesta quarta-feira, o governo anunciou uma redução de 18% nas taxas de desmatamento na chamada Amazônia Legal entre agosto de 2013 e julho deste ano.
A Amazônia Legal é uma área que engloba nove Estados brasileiros pertencentes à Bacia amazônica.
O anúncio coube à ministra do Meio Ambiente, Izabela Teixeira, que comemorou o fato de o índice ser o segundo menor desde 1988, quando começou a ser realizado o levantamento com dados do sistema Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal).
Na avaliação de especialistas ouvidos pela BBC Brasil, embora positivos, os dados não devem ser amplamente comemorados.
"É uma boa notícia, especialmente diante dos dados de 2013", disse Paulo Adário, estrategista sênior de florestas do Greenpeace, em referência ao índice do Prodes divulgado no ano passado, quando houve um aumento de 29% em relação a 2012.
"Mas não comemoramos desmatamento. É preciso ter em mente que foram desmatados 4.848 km² (mais de três vezes o tamanho da cidade de São Paulo), são milhões de árvores".
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, no mesmo período de 2013, foram desmatados 5.981 km² da Amazônia Legal – daí a queda de 18%.
Para Beto Veríssimo, pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que também monitora o desmatamento, "a estimativa do Prodes é relativamente positiva, mas é bom lembrar que a taxa deste ano é do que a de 2012, quando foram desmatados cerca de 4,5 mil km² da floresta."
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Transparência
Mas a principal crítica, segundo os especialistas, é a "pouca transparência" na divulgação mais recente dos dados gerais sobre desmatamento.
Isso porque, em junho deste ano, o governo decidiu parar de divulgar mensalmente os índices monitorados por outro sistema do Inpe, o Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real).
"A decisão do governo de segurar os dados de Deter prejudica a divulgação de informações para a sociedade", disse Gustavo Faleiros, idealizador do site InfoAmazonia, que reúne informações e mapas interativos sobre a floresta Amazônica em nove países.
Para Veríssimo, do Imazon, a divulgação frequente desses dados de "é fundamental para informar a sociedade e orientar os esforços de combate (ao desmatamento)"
"Essa estratégia de transparência foi um dos trunfos que o Brasil passou a adotar com a criação do Deter. Infelizmente, essa abordagem foi interrompida recentemente no período que coincidiu com as eleições."
Adário, do Greenpeace, diz a mudança na divulgação dos dados não significa que o governo estejam escondendo fatos. "Hoje, com a tecnologia disponível, isso fica mais difícil. Mas seria ótimo se tudo estivesse no Google Earth, acessível online para qualquer um."
"Na gestão Marina, algumas ONGs, como o Greenpeace, e alguns institutos de pesquisa recebiam os dados de satélite das áreas desmatadas pelo menos quatro dias antes da divulgação, para que pudéssemos analisar e ajudar o governo a entender o que estava acontecendo. (Mas) este governo é auto-suficiente e se basta a si próprio."
O levantamento divulgado nesta quarta-feira é realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e analisa por meio de imagens de satélite a retirada completa da vegetação deste bioma, formado por toda a Região Norte, além do Mato Grosso e parte do Maranhão.
Os dados são preliminares e serão consolidados no primeiro semestre de 2015, mas Teixeira disse não acreditar em uma variação grande no índice. "Pode ser alterado em 1% a 3%, como já ocorreu antes. Mas isso não muda o fato de que é a segunda menor taxa histórica."
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TransparênciaRegeneração
Teixeira também ressaltou durante o anúncio que da área total já desmatada na Amazônia, 23% está em regeneração.
"Esta área representa duas vezes e meia a área desmatada entre 2008 e 2012", afirmou.
Teixeira atribuiu estes resultados a uma mudança na forma de fiscalização da Amazônia Legal, com a formação de uma parceria entre o Ibama, a Polícia Federal e o Ministério de Ciência e Tecnologia. "Tem uma ação articulada e um trabalho de inteligência acontecendo."
Para Adário, do Greenpeace, esse foi outro dado positivo divulgado nesta quarta-feira que o Brasil vai poder apresentar em Lima para ter mais poder de negociação para a COP 20 - a próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas acontece em dezembro em Lima, no Peru.
"A redução do desmatamento no Pará, em Rondônia e no Mato Grosso., onde há muita plantação de soja, prova que é possível, sim , aumentar a produção agropecuária sem aumentar o desmatamento."
O levantamento do Prodes analisa por meio de imagens de satélite a retirada completa da vegetação deste bioma, formado por toda a Região Norte, além do Mato Grosso e parte do Maranhão.
Segundo a ministra, com exceção do Acre e de Roraima, o desmatamento foi reduzido em todos os outros estados. Mas a ministra não informou o motivo do aumento do índice nestes dois Estados.
"Não sabemos o que ocorreu no Acre e em Roraima. Temos que sentar e analisar para entender", afirmou Teixeira. Em números absolutos, o maior desmatamento foi encontrado no Pará, onde foram retirados 1.829 km² de vegetação. Em segundo lugar, está o Mato Grosso, com 1.048 km² desmatados.
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