Professor da UnB alerta para riscos do mercúrio em vacinas infantis
Tratado internacional para reduzir uso do mercúrio deixou de fora vacinas para crianças. Professor José Dórea, do Departamento de Nutrição, defende banimento da substância nas vacinas brasileiras
[Reproduzido de http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=7694]
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Artigo do Dr. José Dórea sobre este assunto, em publicação, divulgado no PubMed: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/23401210/?i=3&from=mercury%20in%20thimerosal
Toxicity of ethylmercury (and Thimerosal): a comparison with methylmercury.
Department of Nutrition, Faculty of Health Sciences, Universidade de Brasilia, 70919-970, Brasilia, DF, Brazil.Em janeiro deste ano, representantes de 140 países se reuniram em Genebra, na Suíça, para aprovar o texto final de um tratado ambiental que pretende restringir o uso e as emissões globais de mercúrio em produtos e processos industriais que utilizam o metal pesado, nocivo para a saúde e para o meio ambiente. Até 2020, o acordo deverá banir a produção, exportação e importação de certos tipos de lâmpadas fluorescentes, a maioria das baterias, pilhas, cimento, cosméticos, além de termômetros e aparelhos para aferir pressão arterial que utilizam a substância.
O documento, que estará aberto para assinaturas em um reunião no Japão, em outubro, ficou conhecido como Convenção de Minamata, em homenagem à cidade japonesa que sofreu com a contaminação de suas águas por mercúrio na década de 20. Apesar de considerado um avanço, o tratado deixou de fora um produto utilizado em larga escala: as vacinas para crianças. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, as doses são conservadas com uma substância chamada timerosal, à base de mercúrio. “Nações ricas como países da Europa, Estados Unidos e Canadá, já não usam mercúrio para preservar vacinas infantis”, afirma o professor do Departamento de Nutrição da UnB José Dórea, uma das maiores referências mundiais em pesquisas sobre o uso do metal pesado na área da saúde. Confira a entrevista concedida ao radialista americano Gary Null sobre o assunto.
O professor Dórea esclarece que o mercúrio pode ser particularmente nocivo para o feto, recém-nascidos, crianças e mulheres grávidas. “Esse grupo é mais vulnerável a qualquer substância, porque é um estágio delicado de desenvolvimento do sistema nervoso central”, explica. Estudos de Dórea sugerem que pequenas doses de mercúrio em vacinas para crianças podem impactar no desenvolvimento motor e intelectual a longo prazo. “Não falamos de consequências debilitantes, como deixar de andar ou dirigir um carro”, ressalva. “Trata-se do desenvolvimento de suscetibilidades para alterações do comportamento, de inteligência, coisas que ao longo da vida trazem desvantagens”, conclui.
O especialista afirma que não há riscos evidentes para adultos. “Para esse grupo, a dose relacionada por peso, nesse momento, não apresenta nenhum problema”, explica. O professor Dórea ressalva que, em casos emergenciais, não se pode prescindir do mercúrio como conservante para vacinas. “O problema é o uso regular, sistemático e progressivo”, diz. “Se houver um surto, uma epidemia, e for necessário que a vacina seja preservada com o timerosal, ninguém vai discordar”, exemplifica.
José Dórea argumenta que a Convenção de Minamata evidenciou a diferença de tratamento entre crianças de países ricos e pobres. “O que faltou nesse tratado foi uma cláusula que garantisse a simetria entre as crianças do mundo”, diz. “As crianças ricas podem receber um tipo de vacina e as pobres podem receber outro, sem problemas?”, questiona. “Somos a quinta economia do mundo, não temos problemas de dinheiro. Devemos desejar para nossas crianças o que os países ricos desejam para as delas”, conclui. Para Dórea, o debate deve ser levado às autoridades sanitárias brasileiras. “Ninguém fala nisso, é como se não existisse”, diz. “As autoridades deveriam dizer para a população não se preocupar, se o mercúrio não é um problema. Por outro lado, se não é um risco, por que existe um tratado internacional?”, questiona.
“O mundo todo já abandonou essa prática, mas o Brasil continua a gastar dinheiro em vacinas baratas, que obviamente têm que vir em embalagens múltiplas, que requerem preservativos”, continua o professor. José Dórea lembra que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já proibiu o uso de merthiolate, outro produto a base de mercúrio, utilizado para tratar ferimentos externos, mas permitiu que a substância continuasse nas vacinas. “O que parece é que não ligamos para o bem-estar dos nossos compatriotas”, observa. “Achamos que as coisas lá fora são melhores e, realmente, são. Por que não imitamos o que eles têm de melhor?”, defende Dórea.
PESQUISAS – O professor José Dórea se dedica a pesquisas na área que ele denomina Ecotoxicologia. “São questões de natureza ecológica, que têm complicações tóxicas em baixas quantidades e que estão permeadas na cadeia alimentar”, esclarece. Os focos são o mercúrio orgânico (metilmercúrio), que entra na cadeia alimentar e é encontrado na natureza, e o timerosal (ou etilmercúrio), fabricado artificialmente.
Dórea desenvolve trabalhos com populações ribeirinhas da Amazônia Ocidental, investigando as mudanças no comportamento em função do consumo de peixe, a exposição ao mercúrio e as consequências na saúde. Ele analisa ainda o uso do amálgama dentário, seus reflexos na transmissão do mercúrio ao feto, durante a gravidez, e ao recém-nascido, por meio do leite. O professor também realiza estudos para avaliar se a carga natural de mercúrio adquirida em vacinas, por exemplo, tem repercussão no desenvolvimento motor da criança. “O peixe a gente sabe que tem repercussão na saúde do ponto de vista da nutrição. Mas não sabemos ainda se o mercúrio que ele carrega atrasa ou não atrasa o desenvolvimento”, explica.
O especialista afirma que não há riscos evidentes para adultos. “Para esse grupo, a dose relacionada por peso, nesse momento, não apresenta nenhum problema”, explica. O professor Dórea ressalva que, em casos emergenciais, não se pode prescindir do mercúrio como conservante para vacinas. “O problema é o uso regular, sistemático e progressivo”, diz. “Se houver um surto, uma epidemia, e for necessário que a vacina seja preservada com o timerosal, ninguém vai discordar”, exemplifica.
José Dórea argumenta que a Convenção de Minamata evidenciou a diferença de tratamento entre crianças de países ricos e pobres. “O que faltou nesse tratado foi uma cláusula que garantisse a simetria entre as crianças do mundo”, diz. “As crianças ricas podem receber um tipo de vacina e as pobres podem receber outro, sem problemas?”, questiona. “Somos a quinta economia do mundo, não temos problemas de dinheiro. Devemos desejar para nossas crianças o que os países ricos desejam para as delas”, conclui. Para Dórea, o debate deve ser levado às autoridades sanitárias brasileiras. “Ninguém fala nisso, é como se não existisse”, diz. “As autoridades deveriam dizer para a população não se preocupar, se o mercúrio não é um problema. Por outro lado, se não é um risco, por que existe um tratado internacional?”, questiona.
“O mundo todo já abandonou essa prática, mas o Brasil continua a gastar dinheiro em vacinas baratas, que obviamente têm que vir em embalagens múltiplas, que requerem preservativos”, continua o professor. José Dórea lembra que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já proibiu o uso de merthiolate, outro produto a base de mercúrio, utilizado para tratar ferimentos externos, mas permitiu que a substância continuasse nas vacinas. “O que parece é que não ligamos para o bem-estar dos nossos compatriotas”, observa. “Achamos que as coisas lá fora são melhores e, realmente, são. Por que não imitamos o que eles têm de melhor?”, defende Dórea.
PESQUISAS – O professor José Dórea se dedica a pesquisas na área que ele denomina Ecotoxicologia. “São questões de natureza ecológica, que têm complicações tóxicas em baixas quantidades e que estão permeadas na cadeia alimentar”, esclarece. Os focos são o mercúrio orgânico (metilmercúrio), que entra na cadeia alimentar e é encontrado na natureza, e o timerosal (ou etilmercúrio), fabricado artificialmente.
Dórea desenvolve trabalhos com populações ribeirinhas da Amazônia Ocidental, investigando as mudanças no comportamento em função do consumo de peixe, a exposição ao mercúrio e as consequências na saúde. Ele analisa ainda o uso do amálgama dentário, seus reflexos na transmissão do mercúrio ao feto, durante a gravidez, e ao recém-nascido, por meio do leite. O professor também realiza estudos para avaliar se a carga natural de mercúrio adquirida em vacinas, por exemplo, tem repercussão no desenvolvimento motor da criança. “O peixe a gente sabe que tem repercussão na saúde do ponto de vista da nutrição. Mas não sabemos ainda se o mercúrio que ele carrega atrasa ou não atrasa o desenvolvimento”, explica.
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