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18 de jul. de 2013

EXEMPLO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA PECUÁRIA

Fazenda no MS é exemplo de boas práticas sociambientais

Há mais de dez anos não são utilizados insumos químicos, ureia e outros produtos sintéticos na terra.  O manejo do gado segue os princípios do bem-estar animal e somente são utilizados medicamentos homeopáticos e fitoterápicos no tratamento dos animais. 
17 Julho 2013
Organic cattle ranching farm, fazenda, pecuária, orgância, Brasil
© WWF-Brasil/Geralda Magela
Por Geralda Magela

A fazenda Milenium, no município de Maracaju, a 160 km de Campo Grande (MS), é um exemplo de superação e reflete a filosofia de vida de seus proprietários, Thimoteo Lobreiro e sua mulher Maura Correa. Com determinação e usando princípios holísticos, o casal conseguiu transformar uma terra que estava quase toda degradada em um modelo de produção sustentável, tendo como princípios básicos o respeito aos animais e ao meio ambiente.

O proprietário da fazenda Milênio não é um fazendeiro comum. Médico veterinário de formação, foi pesquisador e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul até 1990. Nessa época, foi para a India, onde viveu por 11 anos, entre indas e vindas.

Ao voltar ao Brasil, casou-se com Maura Correa e, desde 2001, o casal está à frente da Milenium. Quando assumiu a fazenda, Thimóteo encontrou uma propriedade quase toda degradada. A tarefa de recuperá-la parecia quase impossível, mas se tornou uma missão de vida para o casal.

Hoje 75% da área total  está recuperada. “Como não tínhamos dinheiro para bancar tudo de uma vez, fomos fazendo isso em etapas. Ainda tem 25% de área a ser recuperada, mas comparando com o que encontramos, consideramos que nosso objetivo já foi alcançado”, destaca Lobreiro.

Do total de 1.093 hectares da propriedade,  860 ha são ocupados pela pecuária (áreas de pastos), com um total de 1.500 cabeças de gado. A fazenda é certificada para produção de carne orgânica pelo Instituto Biodinâmico (IBD), e é uma das integrantes da Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO), projeto apoiado pelo WWF-Brasil.

Manejo ecológico

Apesar de produzir carne orgânica, Thimóteo é vegetariano. Por isso, adotou um sistema de produção na fazenda com base em uma filosofia holística, na qual o respeito aos animais e à natureza são os pilares principais. O sistema produtivo  é baseado no chamado “ciclo completo no pasto"  (da produção de bezerros até o acabamento), com o manejo de pastejo  em  sistema de rotação, combinado com  técnicas agroecológicas.

Há mais de dez anos não são utilizados insumos químicos, ureia e outros produtos sintéticos na terra. 
No manejo do pasto, Thimóteo utiliza biofertilizantes e uma mistura de micro-organismos benéficos ao solo e à  planta. Desta forma, consegue " trazer vida" ao solo novamente, com toda a sua  biodiversidade, garantindo pastos produtivos, sem o uso de produtos químicos. Os insumos naturais são produzidos na própria fazenda.

O manejo inclui também períodos de superlotação, quando uma grande quantidade de animais é colocada no pasto para ajudar na dispersão das sementes e na adubação das áreas de pastagens com o esterco do próprio gado.

Thimóteo segue os princípios do bem estar animal e no tratamento dos animais, utiliza-se somente medicamentos homeopáticos e fitoterápicos. Com esses cuidados, nos últimos quatro anos, conseguiu reduzir a  idade de abate dos animais em um ano.

Para ele, a produção tem como base três princípios básicos.  O primeiro é o é o de que todos os animais e plantas devem ter garantido o seu direito de sobrevivência. O segundo é ter sempre em consideração que existe uma rede intrínseca e interdependente na natureza. E o terceiro ponto é o de não tratar da doença, mas promover a saúde. “Se não interferimos na natureza, ela faz a homeostase (encontra o seu equilíbrio). E é isso que buscamos aqui”, diz.

Paixão pela terra

A mulher Maura Correa confessa que, no começo, achou um pouco estranhas as ideias do marido, mas a convicção dele era tão grande que a convenceu e ela topou o desafio.  Neta e filha de fazendeiros, Maura, que é formada em geografia, foi  criada no Rio de Janeiro, mas nunca deixou suas raízes. O retorno às raízes deve-se a Thimóteo. “Temos em comum a paixão pela terra e abraçamos essa empreitada juntos. Hoje este lugar se tornou o nosso projeto de vida e sou muito feliz com o que conquistamos aqui”, afirma.

Conservação da água

O cuidado o meio ambiente está presente em todas as etapas do trabalho, que incluiu também a recuperação da mata ciliar e das Áreas de Proteção Permanentes (APPs). De acordo com Thimóteo, a recomposição da mata ciliar onde estão as nascentes, resultou em um aumento grande do volume de água. O benefício não fica só para a fazenda, mas também para as propriedades mais abaixo, onde o córrego passa. E também para o  Cerrado.

O cuidado com a água também é uma boa prática da fazenda, que conta um açude artificial para a captação de água de chuva. “Não deixamos o gado entrar no córrego. E como a água acumulada no reservatório artificial é suficiente para matar a sede do gado na maior parte do ano, usamos muito pouco da água dos mananciais naturais”, ressalta. 

Respeito ao ciclo natural.  Respeitar o ciclo da natureza é o ponto central da filosofia de Thimóteo. Ele conta que duas semanas antes da nossa visita uma onça parda comeu dois bezerros no pasto. Mas ele não vê isso como um problema. “A onça também precisa se alimentar. E como praticamente não tenho perda de animais por doença, dois bezerros a menos não fazem a menor diferença”, afirma Thimóteo. 

A visita da onça parda, assim como outros animais que sempre são vistos nas matas da fazenda, como capivaras, veados, cateto, tamanduá e aves como a jacutinga e o mutum, é um indicador de conservação da fazenda. Com a recuperação das matas, a fazenda se torna também um refúgio de sobrevivência para essas espécies.

Boas práticas


Thimóteo continua mantendo a sua essência de pesquisador.  Está sempre testando novas técnicas e criando novas para garantir a produtividade da fazenda com base nos critérios de saúde animal e ambiental.

E a fazenda, que já tem a certificação orgânica, está indo além e se tornou piloto do projeto de boas práticas, desenvolvido pelo WWF-Brasil. “Durante três anos, as práticas desenvolvidas na propriedade irão passar por três avaliações e os resultados publicados e disseminados para serem aplicados em outras fazendas”, explica Ivens Domingos, Analista de Conservação do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil. A primeira avaliação foi feita no final de um ano e a segunda será concluída no final de julho.

Em razão dos resultados alcançados, a fazenda foi escolhida para uma visita de campo no final do  Workshop  Internacional sobre Manejo de Campos Naturais e Pecuária Sustentável, organizado pelo WWF-Brasil em Campo Grande (MS), no final de maio.  A visita teve a participação de  integrantes da rede WWF e de instituições parceiras, que atuam com o segmento da pecuária (ver matéria no link ao lado).

Durante a visita à fazenda, foi possível ver que o projeto está no caminho certo. O pasto verdinho se contrasta com a outra área que ainda não foi recuperada.  O gado com a aparência saudável pasta em meio a algumas manchas de mata recuperada. 

“Já tinha conhecimento da experiência, mas vir aqui na fazenda e ver, na prática, como esse trabalho é feito e os seus resultados é bem diferente. Fiquei muito feliz e considero um privilégio estar aqui”, destacou Bryan Weech, do WWF US, líder de Pecuária no MTI, que até se animou a subir no cavalo e exercer seu lado cowboy. 

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