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16 de jun. de 2012

VERDADE (?) CIENTÍFICA


“O VERDADEIRO PAPEL DA CIÊNCIA NÃO É O DE ABRIR PORTAS PARA A SABEDORIA INFINITA, MAS O DE ESTABELECER LIMITES PARA O ERRO INFINITO” (Bertolt Brecht).


Entre vários assuntos que geram discordâncias em biologia, como o uso de células-tronco de cordões umbilicais para cura de doenças, eutanásia, experimentos in vivo em animais, fecundação in vitro e abortos (sob qualquer propósito, até mesmo aborto de anencéfalos), um outro também gera críticas e descrenças. No presente ensaio comento sobre a postagem anterior neste blog: “O macaco bonobo, 98,7 por cento, igual a nós, nos ensina realmente paz e amor”.

Pra começo de conversa, não é à toa que enfatizo a afirmativa de Bertolt Brecht, destacada acima, que a meu ver, aplica-se muito bem ao caso das similaridades do bonobo com o ser humano. Aliás, Richard Dawkins, em seu extenso trabalho “A GRANDE HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO (2004), São Paulo, Cia. das Letras, 759p.”, afirma (p. 137): “... provas moleculares indicam que chimpanzés e bonobos são parentes mais próximos dos humanos do que dos gorilas”.

É importante observar, no entanto, o que afirma o próprio Richard Dawkins (p. 136): “Tudo o que eu disser sobre essa questão em breve estará ultrapassado, quando forem descobertos novos fósseis”. Esses indicadores de proximidade de parentesco e, consequentemente de similaridades estruturais, funcionais e até mesmo comportamentais, poderão ter outra ou outras interpretações. Se assim o diz o próprio Dr. Richard Dawkins, considerado um dos melhores biólogos evolucionistas (e uma das pessoas mais influentes do mundo pela revista Time em 2007) (também pudera! Escreveu um livro chamado “DEUS, UM DELÍRIO”; imagine se não ficaria famoso! Ou desprezado! Ou odiado!!!); quem sou eu, simples professor de ecologia para analisar criticamente essas novas descobertas sobre o genoma do bonobo e suas similaridades conosco.

Como a fossilização não preserva o DNA, será impossível utilizar essas duas ferramentas, prova molecular genômica e fósseis, para analisar e deduzir precisamente sobre nossas origens e nossas semelhanças com os demais primatas, nós hominídeos e micos, macacos, gorilas, chimpanzés (e bonobos), orangotangos, lêmures, babuínos...

Além disso, é importante observar o que diz Richard Dawkins (p. 226 e 227): “Até o presente o camundongo é um dos pouquíssimos animais, com exceção de nós [e agora do bonobo e chimpanzé] cujo genoma foi totalmente sequenciado. Duas coisas relacionadas a esses genomas recentemente sequenciados causaram uma surpresa infundada. A primeira é que os genomas de mamíferos parecem bem pequenos: da ordem de 30 mil genes, ou talvez até menos. E a segunda é que eles são muito semelhantes entre si. A dignidade humana parecia exigir que o nosso genoma fosse muito maior que o de um minúsculo camundongo. E não deveria ser muito maior do que 30 mil genes, afinal de contas? ... Se você imaginar o genoma como um gabarito, talvez espere que um animal grande e complexo como você tenha mais genes do que um camundonguinho, dotado de menos células e de um cérebro menos sofisticado. Mas... não é assim que os genes funcionam. A maior parte do genoma... não é um manual de instruções para construir um humano ou um camundongo...mas se parece mais com o dicionário de palavras disponíveis para escrever o manual de instruções. Quando uma pessoa é feita, ou quando um camundongo é feito, ambas as embriologias recorrem ao mesmo dicionário de genes... A diferença entre uma pessoa e um camundongo vem das diferentes ordens em que são dispostos os genes retirados desse vocabulário mamífero comum, dos diferentes lugares do corpo onde isso ocorre e da sequência dos fatos. Tudo isso está sob o controle de genes específicos cuja tarefa é ativar outros genes, em cascatas complexas e primorosamente coordenadas. Mas esses genes controladores constituem apenas uma minoria dos genes no genoma”.

Caros leitores, principalmente aqueles que se assustaram achando que no ensaio anterior eu quis mostrar que “somos todos iguais” e que (como afirmou Richard Dawkins, p. 137) “pessoas que talvez sigam a escola de pensamento do bestiário medieval, segundo a qual os animais existem tão somente para nos dar lições de moral”: prestaram bem atenção às últimas afirmações do Dr. Richard Dawkins? Principalmente as palavras destacadas em negrito?

Portanto, meus amigos, essa “reduzidíssima diferença entre nós e o bonobo, e entre nós e camundongos e outros mamíferos”, realmente FAZ A DIFERENÇA.

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