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14 de dez. de 2010

MODIFICAÇÕES PROPOSTAS PARA O CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO: CASO ESPECÍFICO DA VEGETAÇÃO RIBEIRINHA

“Os maiores problemas no mundo são o resultado da diferença entre a maneira como a Natureza trabalha e a maneira como o homem pensa” (Gregory Bateson).
Seria “um sonho” se realmente todos nós entendêssemos com profundidade e agíssemos com responsabilidade em cumprimento ao que foi dito acima, por esse destacado pensador anglo-americano. No caso específico da proposta de modificação do nosso Código Florestal, em andamento no Congresso Nacional, destaco a seguinte característica da Natureza: a importância da largura da vegetação marginal dos rios (ou mata ciliar, ou ainda vegetação ribeirinha ou ripária). Sua largura está intimamente relacionada ao que a ciência ambiental conhece hoje sobre a necessidade de se observar o “tamanho mínimo” de um fragmento florestal ou de vegetação natural qualquer. Sabe-se que qualquer fragmento sempre sofre nas bordas influências dos fatores externos, como temperatura e luminosidade mais elevadas, maiores rajadas de ventos e menor umidade tanto do ar como do solo. Isso é denominado pelos ecólogos como efeito de borda, cujos estudos revelaram principalmente que: “há evidências experimentais de que os efeitos de borda estendem-se até cerca de 100m no interior da reserva, a partir da borda”. Portanto, faixas de vegetação ao longo de rios e que tenham menos de 100m de largura, sofrem grandes efeitos externos. Se hoje a legislação vigente, no Código Florestal Brasileiro, determina uma largura mínima de 30m de vegetação para um rio com largura de 10m, vamos imaginar o que adviria como consequência se essa vegetação ripária fosse reduzida mais ainda?! E agora, nessa reforma em andamento, propõe-se que em pequenos rios e riachos onde hoje a legislação determina a manutenção de 15m de largura... que seja reduzida para 5m!!!
Como ilustração dos efeitos externos sobre uma determinada área de reserva ou de proteção aos recursos naturais, vejamos quão relevante é a forma dessa reserva (sendo ela: quadrada ou retangular). Façamos um cálculo muito simples, somando os lados de um quadrado e os lados de um retângulo. Consideremos um fragmento com forma quadrada, medindo 2km de cada um dos lados: área total = 4km2; e consideremos agora um fragmento com forma retangular que meça 1km por 4km, tendo assim os mesmos 4km2 de área do fragmento de forma quadrada. Quando somamos os 4 lados do quadrado obtemos um perímetro de 8km; e quando somamos os 4 lados do retângulo o perímetro será 10km.
Portanto, o perímetro da área retangular supera em 2km o perímetro da área quadrada. E assim, os efeitos externos são maiores sobre a área de forma “alongada”. É algo semelhante a isso que ocorre na vegetação ripária.
E quais seriam as consequências ambientais, em geral, sobre os rios e riachos onde a vegetação ripária fosse reduzida? É bem possível que o maior impacto resultaria do assoreamento desses cursos d’água, afetando drasticamente seu curso, como recentemente aconteceu com as cheias ocorridas em Pernambuco e Alagoas, em junho de 2010. A “responsabilidade” por tais catástrofes é invariavelmente atribuída à “força da Natureza”. Mas isso é uma falácia. O maior responsável é o ser humano, que sob a complacência das autoridades desmata, assoreia os rios, atira-lhes dejetos e resíduos os mais diversos e depois... se lamenta com as enchentes! E nossas autoridades, essas mesmas que não implantam nas comunidades ribeirinhas projetos de educação ambiental (incluindo os de manejo e preservação desses ecossistemas muito especiais), querem agora que acreditemos que seja necessária uma “adequação do código florestal à atual realidade brasileira, para continuarmos avançando na produção agrícola”.
Além disso, há outros problemas ambientais decorrentes da redução da vegetação ripária, como afirmam diversos pesquisadores, como por exemplo, a supressão da vegetação implica em maior incidência de sol na água, aumentando sua temperatura, o que leva a uma proliferação de algas e, por fim, à eutrofização da água, provocando a morte de peixes. Mas, se nossas autoridades estão pouco preocupadas (ou talvez nem estejam!) com os desastres causados aos seres humanos nas margens de rios, imaginem se estarão elas se preocupando com peixes nesses rios!!!
À revelia das informações científicas hoje conhecidas, querem os defensores da reforma (ruralistas e seus lobistas) que acreditemos que a expansão do nosso potencial agrícola seja necessária que se dê nas margens de rios e topos de montanhas e encostas. O excelentíssimo deputado relator da proposta, Sr. Aldo Rebelo, ainda afirma categoricamente que pesquisadores foram consultados e ampla discussão foi levada a efeito para elaboração da referida proposta! Curioso: os pesquisadores “dele” diferem de todos os outros que publicam trabalhos científicos [vejam por exemplo METZGER et al., Science, vol. 329, 10/julho/2010; onde são citados outros artigos] [no site do LEPAC - Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação, da USP, http://eco.ib.usp.br/lepac/codigo_florestal.html, vejam um artigo bastante esclarecedor de toda essa problemática, baixando o ensaio de Sparovek_etal_2010.pdf].
Sobre a necessidade de se alterar o código visando à expansão da nossa agricultura, vejamos o que disse Celso Manzatto, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente [transcrito de artigo de Giovana Girardi e Andreia Fanzeres, em divulgação da revista “UnespCiência”]: “Mostramos nos últimos 20 anos que é possível ganhar produtividade sem precisar incorporar novas terras. Não significa, necessariamente, que vamos ter desmatamento zero. O que o país precisa, e ainda não dispõe, é de políticas de ordenamento do território que apontem claramente quais são as áreas a serem ocupadas para a produção agropecuária no futuro.” Gerd Sparovek (de equipe de pesquisadores da USP, no ensaio acima citado e divulgado no LEPAC/USP), que fez um mapeamento de quanto do território deveria estar, ou já é, preservado, defende que não existe necessidade de revisar o código para permitir o desenvolvimento do setor agropecuário. Segundo ele, a agricultura tem espaço para se expandir sobre áreas de elevada e média aptidão agrícola que hoje são ocupadas pela pecuária extensiva (com 1,1 cabeça por hectare) [uma média produtiva, no sul do Brasil, é 4,5 cabeças por hectare]. Pelos seus cálculos, encontram-se nestas condições 61 milhões de ha, dentre os 211 Mha ocupados pela pecuária. “Com isso é possível quase dobrar a área agrícola no país”, afirmou Sparovek. Hoje a atividade se espalha por 67 Mha [transcrito de artigo de Giovana Girardi e Andreia Fanzeres, em divulgação da revista “UnespCiência”].
Aqui no nosso país, muitos atores decisivos da sociedade ainda não se aperceberam de que “há muito tempo já deveríamos ter passado da fase de desmatar e conquistar para a de preservar e recuperar o que foi destruído”. Ecologia da Recuperação não é modismo. É necessidade.

3 de dez. de 2010

DESCOBERTA "NOVA BACTÉRIA" EXTREMÓFILA: MAIS PERGUNTAS DO QUE RESPOSTAS

Newscientist, 2 de dezembro de 2010
BILINGUE
Comentários introdutórios: 1) A bactéria deste presente estudo é da família Halomonadaceae, do filo Proteobacteria. 2) As proteobactérias são todas gram-negativas, apresentando grande diversidade metabólica (algumas têm importância médica, industrial ou agrícola). Algumas são extremófilas, como a da presente descoberta. 3) Proteobacteria consitui-se num grupo de grande importância evolutiva, geológica e ambiental em geral. 4) Mono Lake, na Califórnia, fica nas proximidades do Parque Nacional de Yosemite (de águas quentes). É um lago de água salgada (média de 50 g/L, comparado com águas oceânicas de 31,5 g/L; em nível baixo de água, já alcançou 99 g/L). 5) Contém flora e fauna adaptadas à água salobra. 6) A presente revelação sugere a necessidade de mais estudos sobre esta e outras bactérias de ambientes extremos.

INGLÊS: ARSENIC-BASED BACTERIA POINT TO NEW LIFE FORMS
PORTUGUÊS: BACTÉRIAS BASEADAS EM ARSÊNIO APONTAM PARA NOVAS FORMAS DE VIDA

INGLÊS: We could be witnessing the first signs of a "shadow biosphere" – a parallel form of life on Earth with a different biochemistry to all others. Bacteria that grow without phosphorous, one of the six chemical elements thought to be essential for life, have been isolated from California's Mono Lake. Instead of phosphorous, the bacteria substitute the deadly poison arsenic.
PORTUGUÊS: Poderemos estar testemunhando os primeiros sinais de uma “biosfera da escuridão” – uma forma de vida na Terra com uma bioquímica diferente de todas as outras. Bactérias que crescem sem fósforo, um dos seis elementos químicos tidos como essenciais à vida [tais elementos são: carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre], foram isoladas do Lago Mono, na Califórnia. Ao invés de fósforo, a bactéria o substitui pelo veneno mortal arsênio.
INGLÊS: "Life as we know it could be much more flexible than we generally assume or can imagine," says Felisa Wolfe-Simon of NASA's Astrobiology Institute and the US Geological Survey in Menlo Park, California.
PORTUGUÊS: A vida, como a conhecemos, poderá ser muito mais flexível do que nós geralmente admitimos ou possamos imaginar, diz Felisa Wolfe-Simon do Instituto de Astrobiologia da NASA e do “US Geological Survey”, em Menlo Park, California.
INGLÊS: Wolfe-Simon's team took mud containing bacteria from the arsenic-rich Mono Lake and grew them in ever decreasing concentrations of phosphorous. Their rationale was that since arsenic is just below phosphorous in the periodic table, and shares many of its chemical properties and is even used as a source of energy for some bacteria, the bugs would be able to swap one for the other. That is just what happened.
"After one year, they are still alive and well," says Paul Davies of Arizona State University in Tempe. Not only that, the team showed that this ability was incorporated deep into the molecular building-blocks of the bacterium, strain GFAJ-1 of the salt-loving Halomonadaceae family, right down to the DNA.
PORTUGUÊS: A equipe de Wolfe Simon coletou lama contendo bactérias do Lago Mono, rico em arsênio e cultivou-as em concentrações cada vez menores de fósforo. A lógica deles era de que desde que o arsênio está logo abaixo do fósforo na tabela periódica e compartilha com este elemento muitas de suas propriedades e é até mesmo utilizado por algumas bactérias como fonte de energia, esses organismos seriam capazes de trocar um [o elemento fósforo] pelo outro [o elemento arsênio]. E foi justamente isso que aconteceu. “Após um ano, elas [as bactérias] ainda estão bem vivas”, afirma Paul Davis da Universidade do Estado do Arizona, em Tempe. Não somente isso, a equipe mostrou que esta habilidade foi incorporada no interior dos blocos que constroem a molécula da bactéria, a linhagem GFAJ-da família das Halomonadaceae com afinidade por sal, direto para o DNA.
INGLÊS: "It's the first time such a chemical substitution has been shown for DNA," says Philippe Bertin of the University of Strasbourg, France, who was not part of the team. "Possibly, it's a relic of an ancestral metabolism that was supplanted during evolution because using phosphorus was more stable and less toxic."
Despite surviving on arsenic for a year, the bacteria would still "prefer" to grow using phosphorous: biomolecules react more efficiently in water and seem to be more stable when constructed with phosphorous than arsenic. They only substitute arsenic if there is no alternative.
PORTUGUÊS: “É a primeira vez que uma substituição química foi mostrada para o DNA”, disse Philippe Bertin da Universidade de Strasbourg, França. “Possivelmente é uma relíquia que foi superada durante a evolução porque o uso de fósforo era mais estável e menos tóxico”. Embora sobrevivessem de arsênio por um ano, a bactéria ainda “preferiria” crescer usando fósforo: as biomoléculas reagem mais eficientemente em água e parecem ser mais estáveis quando construídas com fósforo, mais do que com arsênio. Elas somente substituem por arsênio se não há alternativa.
INGLÊS: Steven Benner, a chemist from the Foundation for Applied Molecular Evolution in Gainesville, Florida, who works on alternative forms of DNA, is sceptical that the bacteria really do contain arsenic. "I doubt these results," he says, since in order to measure the modified DNA it has to be put into a water-containing gel, which would rapidly dissolve any arsenate molecules. Any hypothesis that arsenate might replace phosphate in biomolecules must take this into account, he says.
PORTUGUÊS: Steven Benner, químico da Fundação para Evolução Molecular Aplicada, em Gainsville, Flórida, que trabalha com formas alternativas de DNA, é descrente do fato de que bactérias realmente contêm arsênio. “Eu duvido desses resultados”, disse ele, desde que a fim de medir o DNA modificado, este tem que ser posto em gel contendo água, a qual rapidamente dissolveria quaisquer moléculas de arsênio. Qualquer hipótese de que arsenato poderia tomar o lugar de fosfato em biomoléculas, deve levar isto em consideração, afirma ele.
INGLÊS: Shadow biosphere. Davies says that future work will address the stability-in-water issue, but argues that the discovery underlines the need to look further for the first true representatives of alternate life forms in Earth's shadow biosphere.
PORTUGUÊS: Davies disse que trabalho futuro será dirigido à questão da estabilidade em água, mas argumenta que a descoberta salienta a necessidade de se olhar mais adiante para os primeiros representantes de formas alternativas de vida na biosfera da escuridão da Terra.