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27 de set. de 2018

A MATA ATLÂNTICA ESTÁ EM PROCESSO DE DEGRADAÇÃO PELA REDUÇÃO DE SUA FAUNA

Reproduzido de

Os pesquisadores analisaram informações sobre fauna encontrada em quase 500 remanescentes da floresta, publicadas desde a década de 1980 para comparar com dados históricos sobre a fauna. Depois, mapearam as informações com base nas regiões, delimitadas pelas bacias hidrográficas e em sete grupos funcionais das espécies (que vão desde folívoros à hipercarnívoros – que possuem mais de 70% da dieta composta por carne).
Blocos de Mata Atlântica que se estendem desde o sul de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul ainda possuem maior quantidade de médios e grandes mamíferos. “A gente imagina, embora não tenha medido, que nesses corredores das escarpas das Serras Geral e do Mar ainda existem condições da fauna se manter viável e servir de fonte para locais próximos”, afirma o biólogo Juliano André Bogoni, um dos autores do artigo.
Os mapas mostram que nas regiões mais ao sul e ao norte da Mata Atlântica, a defaunação é mais grave. Embora, indiquem a presença herbívoros em florestas ao sul, nestas regiões os dados indicam pouca presença de predadores de topo, onças-pintadas e onças-pardas. Entre os fatores que podem contribuir para essa diferença, segundo Bogoni, estão o histórico de ocupação, população original de animais e tamanho dos fragmentos florestais.
O biólogo, que pesquisador de pós-doutorado na Universidade de São Paulo em colaboração a University of East Anglia, Reino Unido, explica que as análises indicaram que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a renda per capita e tamanho dos fragmentos interferem na presença da fauna. Mas segundo ele, embora haja uma tendência de regiões mais pobres manterem menos animais nas matas, esse fator não é determinante, pois existem áreas com IDH mais elevados com florestas vazias. De acordo com ele, não é possível isolar cada um desses favores, mas a cobertura de vegetação é o que mais contribui para manter a fauna.
“Essas florestas vazias, onde a defaunação não é por perda de habitat, mas por outro fator, provavelmente a caça”, avalia Bogoni. “ A caça é histórica, em 500 anos nunca cessou”, completa. De acordo com ele, o estudo permite mapear áreas mais críticas para a conservação e também para políticas públicas mais robustas. “A gente mostrou entre os grupos funcionais aqueles que mais sucumbem à defaunação, onde mais sucumbem. Isto dá um embasamento para políticas públicas de conservação, onde agir melhor, em que grupos e de que forma”, destaca.
O ARTIGO ORIGINAL PODE SER ACESSADO EM:

23 de set. de 2018

ÚLTIMAS ÁRVORES GIGANTES DA MATA ATLÂNTICA (PROVAVELMENTE)

https://www1.folha.uol.com.br/




Transcrito de:  FOLHA DE SÃO PAULO 
A exuberância das árvores gigantes chama a atenção do botânico Ricardo Cardim desde que ele era criança. “Sempre as achei fascinantes e pensava como é que podiam crescer tanto”, conta. “Mas elas foram sumindo. São uma sombra da floresta original. Hoje temos árvores jovens que não tiveram tempo de crescer.”
Nos últimos três meses, Cardim e o fotógrafo Cássio Vasconcellos viajaram para Santa Catarina, Paraná, São Paulo (litoral e interior do estado), Espírito Santo, Bahia e Alagoas em busca das árvores gigantes remanescentes da mata atlântica
Para achá-las, a dupla contou com a ajuda de acervos históricos, botânicos com grande experiência de campo, funcionários de parques e reservas e dicas via redes sociais. O botânico Luciano Zandoná esteve em todas as expedições.
A menina dos olhos do botânico é uma figueira, a maior de que se tem conhecimento na mata atlântica, com mais de 40 m de altura e 21,40 m de circunferência, localizada na reserva Legado das Águas, da Votorantim, no estado de São Paulo. Cardim descreve como surreal encontrá-la a apenas cerca de 90 km da capital paulista, após percorrer 11 km de caminhada dentro da reserva.
Outro grande achado —literalmente— foi a segunda maior árvore do estado de São Paulo, um jequitibá-rosa com mais de 40 m de altura batizado de Matriarca, por ficar próximo do jequitibá-rosa conhecido como Patriarca. Esse último, em Santa Rita do Passa Quatro (SP), é considerado a árvore mais antiga do Brasil, com idade estimada de 3.000 anos.
A  descoberta do Matriarca foi feita em conjunto com Waldonésio Nascimento, agente do parque estadual do Vassununga, e Fabrício Cunha, gestor do parque da Fundação Florestal.
Completa o top 3 a maior árvore conhecida de pau-brasil do país, com cerca de 25 metros de altura. A árvore que deu nome ao país começou a ser explorada com a chegada dos portugueses e chegou a ser considerada extinta. 
Para Cardim, as árvores remanescentes contam uma história da mata atlântica. “Muita gente hoje acha que a mata é só um fragmento perto da casa de praia”, diz ele.
No ano passado, Cardim foi o curador da exposição “Remanescentes da Mata Atlântica & Acervo MCB” no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. A ideia era conectar os móveis antigos com as árvores que deram origem a eles. Fotos antigas da mata contam a história dela e de seu desmatamento.
A própria localização do museu, às margens da antiga várzea do rio Pinheiros, abrigava formações florestais de matas ciliares em diques úmidos e secos que foram suprimidas e aterradas.
“Na exposição, muita gente me perguntava se ainda existiam muitas das árvores centenárias retratadas nas imagens. E não se sabia. Faltava preencher essa lacuna.”
A expedição foi possível graças a quatro patrocinadores: Fibria Celulose, Reservas Votorantim, Viveiros Fábricas de Árvores e Café Orfeu. O retrato das árvores centenárias remanescentes virará um livro, a ser lançado em novembro pela editora Olhares. 

19 de set. de 2018

“PERMAFROST” E O AQUECIMENTO GLOBAL: NOVAS REVELAÇÕES


Vejamos, inicialmente, como o ecossistema do “permafrost” é conceituado no GLOSSÁRIO DE ECOLOGIA (disponível em pdf neste blog):

“PERMAFROST”
Solo com água, quase permanentemente congelada, estando sob a forma líquida em período
muito curto do ano, típico da região ártica, sobre o qual ocorre a tundra.
Observações sobre a preservação do “permafrost” diante das evidências atuais do aquecimento
global vêm mostrando que os 3,35 m superiores do solo da tundra onde ocorre o “permafrost” vem
apresentando buracos devido ao derretimento do gelo nele contido. Estima-se que dos 10.359.000 km2
cobertos por “permafrost” somente 1.035.00 km2
Ártico estejam carregando para o mar 7% mais água doce do que carregavam em 1930. A maior
preocupação, no entanto, reside no fato de que grandes quantidades de metano e dióxido de carbono serão
emanadas para a atmosfera, em consequência do derretimento do gelo, uma vez que entre 20% e 60% do
carbono dos solos do mundo estão ali retidos.
As mudanças climáticas não vêm sozinhas. Uma consequência leva a outra, que leva a outra, em um efeito em cascata que, no final, tornam o problema bem pior que o inicial. Alguns são conhecidos pela ciência, como, por exemplo, se uma espécie de planta ou animal morre devido à alterações em seu habitat, a decomposição libera metano e carbono na atmosfera e, em larga escala, intensifica o processo.
Algumas delas, no entanto, ainda são um mistério - e conforme avançam as pesquisas sobre o aquecimento global, cresce a urgência para a adoção de medidas mais drásticas para impedir que a temperatura do planeta continue subindo. Dessa vez é um grupo de pesquisadores de instituições canadenses que trazem as más notícias.
Uma das principais preocupações dos cientistas está no extremo norte da Terra. O gelo começou a derreter até em alguns dos cantos mais frios do planeta, com uma reação de impactos que atinge todo o planeta.
O derretimento do permafrost, solo que passa longos períodos congelado, em alguns lugares desde a última Era Glacial, esconde uma camada espessa de sedimento contendo grandes quantidades de metano na forma de hidratos de metano sólidos. Estes têm uma estrutura de cristal em forma de gaiola na qual as moléculas de metano são cercadas por gelo.
A liberação da pressão, sem o peso do gelo, permite que os hidratos se desintegrem e se transformem em metano gasoso, que borbulha através da coluna de água em plumas intensas e é liberado para a atmosfera. Embora o metano permaneça na atmosfera por cerca de uma década (ao contrário do CO2, que pode durar séculos), ele captura calor 23 vezes mais eficientemente por molécula do que o dióxido de carbono.
De acordo com o estudo canadense, publicado Geophysical Research Letters, há mais um efeito nefasto do derretimento do permafrost. Em pesquisas deste tipo de solo no oeste do Canadá, onde o permafrost contém minerais de sulfeto, o derretimento faz com que se misture com a água, e na reação, vira ácido sulfúrico.
Conforme essa água ácida escorre, acaba erodindo as rochas e liberando na atmosfera dióxido de carbono que estava aprisionado nelas. De acordo com os pesquisadores, no entanto, é impossível dizer quanto está sendo liberado.  Há poucos estudos sobre a  composição química do permafrost ou sobre a distribuição de sulfetos no ártico.
"Podemos controlar muitas fontes de CO2 para a atmosfera, causadas por atividades humanas, como combustíveis fósseis e mudanças no uso da terra", disse o autor Scott Zolkos, da Universidade de Alberta, à New Scientist. “Mas uma vez que o permafrost começa a descongelar e liberar CO2 e metano, isso está além do nosso controle. Não é como se pudéssemos colocar uma manta térmica gigante no Ártico.”

9 de set. de 2018

GLIFOSATO LIBERADO: BOA SORTE A TODOS QUE CONSOMEM ALIMENTOS, PRINCIPALMENTE DA SOJA



O presidente do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1), Kássio Marques, aceitou, nesta segunda-feira (3), recurso contra liminar da Justiça Federal que suspendia o registro do Glifosato e demais agrotóxicos até a conclusão da análise de toxicidade pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com a decisão do TRF, os agrotóxicos voltam a ter o uso liberado nas plantações brasileiras.
Para Alan Tygel, da coordenação nacional da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, a queda da liminar representa um risco para a população: 
“A gente tem aí desde 2015, que a Organização Mundial da Saúde, através da sua agencia de câncer, classifica o Glifosato como um agrotóxico provavelmente cancerígeno, o que indica que já existem pesquisas sólidas o suficiente para associar o Glifosato ao câncer”.
Além do câncer, pesquisas da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que os agrotóxicos são associados a diversos outros problemas, resultado tanto do contato direto do trabalhador da lavoura com o produto quanto do consumo do alimento. 
Outra questão são as doenças que só se manifestam anos após a ingestão dos agrotóxicos, como o próprio câncer e problemas hormonais. Dentro deste contexto, Alan Tygel explica que é importante a Anvisa fazer a reavaliação do registro dos herbicidas:
“Isso é uma das aberrações que a gente tem hoje na nossa lei, que, ao contrário de outros países no mundo, quando o agrotóxico é registrado aqui, o registro vale para sempre. Então esse processo é a forma de rever uma substância e inclusive analisar se, com os avanços da ciência, ela continua de acordo com a legislação", aponta. 
A Advocacia-Geral da União, autora do recurso aceito pelo TRF, justifica a ação ao alegar que a suspensão do Glifosato traria sérios riscos à economia. O herbicida é um dos mais utilizados pelo agronegócio corporativo e sua proibição afetaria o período da safra, iniciada na segunda-feira. Já para Alan Tygel, o argumento vai contra o chamado “princípio  da precaução”: 
“Se há dúvidas, então que se pare de usar até que se termine, que se tenha algum tipo de conclusão e aí se decide se tem ou não continuidade do uso”.
Aplicado principalmente na produção de soja, produto de maior exportação no Brasil, o Glifosato faz parte da lista dos quase 400 agrotóxicos usados nas lavouras do país. Sua proibição causaria impacto nos lucros da indústria do agronegócio, modelo de negócios seguido no país. 
“A forma como se desenvolveu o modelo de agricultura no Brasil colocou nosso país completamente dependente das empresas transnacionais, tanto das que fornecem as sementes quanto as que fornecem os agrotóxicos”, critica Tygel. 
Para contrapor a utilização de agrotóxicos nas lavouras brasileiras, a alternativa apontada por Tygel e defendida pelos movimentos sociais é apostar em outros modelos de produção que forneçam à população uma alimentação saudável e sem dependência de multinacionais, como é o caso da agroecologia.
Edição: Diego Sartorato