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13 de ago. de 2025

RETORNANDO ÀS JUSTIFICATIVAS PARA LIMITAR A ALTURA DE PRÉDIOS NA ORLA MARÍTIMA DE JOÃO PESSOA, PARAÍBA

A PARTIR DE ENTREVISTA DA DRª PAULA FRASSINETE (ASPAN-Associação Paraibana dos Amigos da Natureza) https://www.instagram.com/reel/DNRg9GtvvrD/?igsh=dDlvenhmbzJkdnVh Estou republicando: EDIFICAÇÕES NA ORLA MARÍTIMA DE JOÃO PESSOA: ABORDAGEM ECOLÓGICA DO PROBLEMA (reproduzido, em parte, de artigo publicado no jornal CORREIO DA PARAÍBA, de 04 de maio de 2004: “ESPIGÕES: PROBLEMINHA E PROBLEMÕES”) “Os maiores problemas ambientais residem na diferença entre a maneira como a Natureza trabalha e a maneira como o homem pensa” (Gregory Benson, ecólogo). Toda vez que algum movimento, política e economicamente bem articulado, é lançado na mídia, visando “melhorar” nosso ambiente urbano, “incrementar” o turismo, “trazer” o progresso (e outros jargões da moda usados por tais articulistas), eu me lembro da observação feita pelo ecólogo acima mencionado. Um desses movimentos é o da construção de espigões na orla marítima de João Pessoa. Passa-se o tempo e as idéias de “desenvolvimento”, baseadas na especulação do espaço e o lucro por elas gerado, continuam predominando. É fácil compreender que profissionais da engenharia civil, arquitetura e técnicos de áreas afins, sejam capazes de propor medidas com a pretensão de amenizar o simples e único aspecto desvantajoso, na visão deles, gerado pelos famosos espigões: a ventilação. Fundamentam-se tais profissionais no desenho arquitetônico, uso de materiais especiais e no conhecimento sobre a “dinâmica dos ventos”, para justificarem a construção de edifícios. Este é o probleminha. Por outro lado, geógrafos, biólogos e ecólogos, e outros profissionais que pesquisam sobre o meio ambiente, fundamentados nos estudos dos fatores que influenciam sobre a vida humana (numa visão antropocêntrica) e sobre a vida vegetal e animal, como um todo (numa visão ecocêntrica), compreendem que o conceito de condições ambientais adequadas a uma boa qualidade de vida, implica num conjunto de fatores ou componentes abióticos, ou seja, que não têm vida (energia solar, água, oxigênio, vento, topogrtafia, espaço etc.) e bióticos, ou seja, que têm vida (plantas, animais e microrganismos). A combinação, inter-relação, interdependência e ação equilibrada desses fatores, constituem as condições ambientais que permeiam a boa qualidade de vida, tais como a precipitação pluvial, o calor, a umidade do ar, a luminosidade, as correntes de vento, as variações estacionais, assim como a vegetação, o solo, o espaço, a topografia etc. A problemática da construção de espigões não pode centrar-se única e exclusivamente na questão da dinâmica dos ventos. A literatura científica mostra que um ambiente sofre degradação quando nele ocorre um dos seguintes processos: distúrbio ou estresse. Um ambiente, natural ou urbano, pode estar apto a resistir a um distúrbio ou perturbação fortuita, como por exemplo um vento forte, uma tempestade violenta ou forte insolação. Mas o estresse, diferentemente do distúrbio, é uma pressão contínua, com tendência a ser prolongada. Agora surgem os problemões. Um ambiente urbano, com alta densidade de espigões, proporciona uma ilha de calor permanente (a água da chuva flui rapidamente pelas galerias pluviais, sem dar tempo para resfriar o ambiente, pois não há evaporação lenta, pelo fato de que o solo que desempenhava essa função foi recoberto pela pavimentação de ruas, calçadas e pátios dos edifícios). Há maior intensidade de tráfego, resultando em maiores poluições atmosférica e sonora. As ruas, há longo tempo planejadas, continuarão estreitas, sem espaço para árvores, que abafariam o ruído e absorveriam poluentes. Crianças e idosos, os extremos da faixa etária humana, sempre esquecidos nos nossos planejamentos urbanos, são os que mais sofrem. A água da chuva, que cai nos pátios dos edifícios, é na sua maioria, conduzida para a rede de esgotos, que terá esta sobrecarga, além da carga resultante do aumento da densidade de residências. A manutenção da rede de esgotos não é satisfatória. Neste ponto é bom lembrar a observação: o desenvolvimento de um povo é medido a partir da sua capacidade de manutenção dos seus serviços. A nossa capacidade continua precária. O aumento da densidade populacional humana, elevando a freqüência diária à praia, gera maior carga de resíduos orgânicos. Os microrganismos, responsáveis pela decomposição e reciclagem da matéria orgânica no solo, certamente não terão o tempo necessário para realizar esse processo, que se agravará pela possível ocorrência de sombras, à tarde, causadas por edifícios próximos à praia. A probabilidade de se contrair doenças em contato com a areia e a água do mar aumenta. Crianças são as mais vulneráveis. E depois de tantos problemas, quais as soluções? No caso da orla marítima de João Pessoa, o princípio da verticalização para crescer, não é solução. Administrar a situação presente, para manter uma boa qualidade de vida, já demanda recursos e esforçoes limitantes. O incentivo à pesquisa científica, à criatividade, às inovações não-degradadoras, precisa ser estimulado e financiado. Às vezes me pergunto: afinal, por que e para que nossa sociedeade precisa de Universidade, se o que prevalece sempre é o interesse político e econômico? (Breno Grisi (professor aposentado da UFPB).

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