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31 de out. de 2013

NOVA LEI DAS CAVERNAS: SUAS RELEVÂNCIAS E A "COMPENSAÇÃO AMBIENTAL"

nova lei de cavernas
Felipe Lobo - 17/11/10


 
Lago na caverna em São Desidério (Bahia). Cavidade poderá ser protegida como 
compensação à supressão de outras cavernas na mesma região (foto Alexandre Lobo)
Está em trâmite, no Instituto Chico Mendes (ICMBio), o primeiro pedido de supressão de cavernas de alta relevância com base nos critérios estabelecidos pela Instrução Normativa 02/09, publicada no Diário Oficial da União em 20 de agosto de 2009. O Instituto do Meio Ambiente (IMA), órgão ambiental do estado da Bahia, emitiu a licença prévia para a exploração de minério de ferro a ser efetuada pela Bahia Mineração. A proposta prevê o impacto direto em 10 cavidades naturais de alta importância, e outras 15 de média – o que, de acordo com a nova legislação, só pode acontecer a partir de compensação ambiental

Uma obra com estas características começou a se tornar viável no dia 7 de novembro de 2008, quando o Decreto 6640, assinado pelo então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, abriu as portas do patrimônio espeleológico brasileiro para o avanço de empreendimentos. De acordo com o texto, as cavernas passariam a ser divididas em quatro categorias (Máxima, Alta, Média e Baixa Relevância), e apenas as de máxima permaneceriam integralmente protegidas. 
No ano seguinte, a IN indicou os critérios para determinar os níveis de enfoques locais e regionais de uma gruta, o que, por sua vez, as encaixa em uma das categorias pertinentes. Foi a partir deste momento que a classificação se tornou impossível. No fim de 2009, a Bahia Mineração entrou com o pedido que agora está nas mãos do ICMBio. Isto acontece porque, embora o licenciamento ambiental seja predicado do Ibama e dos órgãos estaduais, o Decreto 6640 diz que uma Caverna de alta relevância só pode ser suprimida caso duas outras, de mesmo status, sejam conservadas na área do empreendimento. Mas, se elas não existirem em número suficiente, o Chico Mendes pode chegar a um acordo com a empresa pleiteante.

“As cavernas ficam no município de Caitité. O que temos recomendado aos órgãos legisladores é que a regra e prioridade absoluta deve ser preservar duas grutas na mesma localidade. Ou seja, se um empreendimento desejar impactar cinco cavidades de alta relevância, outras dez precisam de conservação em caráter permanente. Supondo que o ambiente tenha apenas seis grutas neste status, então apenas duas podem ser impactadas. Que isto seja rigorosamente avaliado. Mas é claro que existem alguns problemas, e precisamos analisá-los”, explica Jocy Cruz, chefe do Centro Nacional de Pequisa e Conservação de Cavernas (Cecav). 

Como em Caitité não existem outras vinte cavernas de alta relevância a serem protegidas como compensação, o ICMBio entrou no circuito e analisou a proposta da Bahia Mineração. Após amplo estudo, a criação de uma unidade de conservação de proteção integral (provavelmente um Parque Nacional) foi proposta na região de São Desidério, também na Bahia. É lá onde fica a caverna Buraco do Inferno da Lagoa, listada pelo Cecav como uma das dez mais importantes do país e caracterizada como de máxima relevância– uma vez que, por exemplo, possui o maior lago subterrâneo nacional.
Ela, aliás, sofreu pressão em virtude das obras da BR-135, embargada justamente por isso. “O processo agora está na fase jurídica dentro do ICMBio para a confecção de um Termo de Compromisso, entre outros documentos. Depois, serão necessários estudos para garantir as áreas de recarga do sistema e a apresentação de planos para regularização fundiária, caracterização física e etc. Vale lembrar que está é apenas uma parte da contrapartida. Existem algumas cavernas de alta em Caitité que ganharão proteção eterna – e por isso passam ao status de máxima”, avalia Jocy. Os estudos e a criação da unidade não devem passar de um ano, assim como o pagamento para neutralizar a supressão das de média relevância. Esta é a fase da Licença de Instalação.

Outros pedidos em breve

Jocy Cruz, chefe do Cecav: Instrução Normativa precisa ser revisada. (foto: Aldem Bourscheit)
O chefe do Cecav é direto ao dizer que o Decreto 6640 os pegou de surpresa. Mas, uma vez publicado, era preciso elaborar uma Instrução Normativa com o máximo de rigor. Segundo ele, o esforço do Centro foi reunir a comunidade espeleológica e demais interessados, como os ministérios de Meio Ambiente e Minas e Energia. “No entanto, sempre soubemos que o conhecimento científico atual sobre o patrimônio não é suficiente para responder a uma série de perguntas. Precisamos de maiores estudos para aumentar a confiabilidade. Mas desde agosto do ano passado promovemos discussões amplas para que, no prazo de dois anos de revisão da IN, possamos aprimorá-la”, diz.

Para Jocy, a IN segue o princípio da precaução, o que minimiza os impactos do Decreto. Mylène Berbert-Born, espeleóloga com 25 anos de experiência, pensa justamente o contrário. “Ela foi lançada sem certificação prévia de sua viabilidade e eficácia, ou seja, não foi previamente testada para os diferentes cenários reais possíveis. Sua experimentação está ocorrendo na prática do licenciamento ambiental, em pleno exercício da decisão. Aí está um problema fundamental: se os critérios adotados não são seguros, tendo em vista o nível de complexidade envolvendo os sistemas cavernícolas, consequentemente a tomada de decisão é frágil, sujeita a erros. Tratando-se de erros que podem comprometer bens coletivos irrecuperáveis, a situação fere o princípio da precaução que rege a política ambiental”.
Para que uma caverna seja considerada de máxima relevância ela precisa ter, ao menos, um de onze atributos, dentre os quais isolamento geográfico ou espeleotemas únicos. Já para ser encaixada no status de alta, deve constar em uma de 22 características, tal presença de espécies importantes, alta riqueza de espécies ou composição singular da fauna. Uma vez que a Instrução Normativa já está em vigor, porém, é consenso entre o Cecav e a sociedade civil que ela precisa receber ajustes.

“Por enquanto a caverna não foi suprimida. Uma observação importante e que não pode ser ignorada é que, antes do decreto e da IN, muitas cavernas foram suprimidas sem compensação nenhuma, na surdina, pois se alguém soubesse da existência delas, o empreendimento seria paralisado. Portanto, não é o retrocesso ao modelo anterior que vai salvar cavernas, mas um aperfeiçoamento dos critérios da IN.“, explica Lêda Zogbi, espeleóloga do Meandros Espeleo Clube.

A Bahia Mineração foi a primeira a entrar com o pedido de supressão, mas não a única. A nova legislação determina que os estudos para indicar o grau de cada caverna devem ser feitos pelas empresas que solicitem a licença ambiental e precisam analisar as características das grutas nas estações seca e úmida, o que demora um ano. A tendência é que, a partir de agora, o ICMBio tenha bastante trabalho pela frente nos acordos com os pleiteantes (há uma série de solicitações em análise em São Paulo e Minas Gerais). 

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30 de out. de 2013

"OURO DE NOSSO TESOURO": ARARAJUBA

Ararajuba, o pássaro tão especial quanto o ouro
Rafael Ferreira - 17/10/13

ararajubaUm casal de ararajubas (Guaruba guarouba). Crédito: Benny Mazur/Flickr
Uma espécie endêmica do Brasil, a ararajuba(Guaruba guaruba) é encontrada exclusivamente na área entre o norte do Maranhão, sudeste do Amazonas e norte do Pará; e sempre ao sul do Rio Amazonas e leste do Rio Madeira. Há registros de avistamentos em Rondônia e extremo norte do Mato Grosso, na década de 1990.
"Ararajuba" vem do termo tupi para "arara amarela", araraîuba: yuba = amarelo e arara = aumentativo de ará ("papagaio"), isto é, papagaio grande. Possuindo ainda, outros nomes, tais como: guaruba, aiurujuba, guarajuba, marajuba, tanajuba, ajurujuba, ajurujubacanga, guamba, guarujuba e papagaio-imperial, trata-se de uma ave inconfundível, que tem até 35cm de comprimento e possui uma bela plumagem amarelo-ouro, com pontas da cauda das asas coloridas de verde-oliva.
Poucas são as informações sobre os hábitos da espécie no meio selvagem, mas alguns comportamentos são conhecidos. Alimentam-se de sementes, frutos oleosos, frutas e flores. As aves se reúnem em grupos de até 40 indivíduos, divididos em bandos menores de tamanhos variáveis que pernoitam em ninhos separados nas copas das árvores de florestas úmidas altas. Entre si são muito sociáveis e cooperativas. Enquanto algumas forrageiam alimentos e realizam outras atividades nas partes baixas, outras se colocam sobre a copa florestal, atuando como guardiões e vigias. Com intrusos, são territoriais: expulsam de sua área de nidificação outras espécies de aves, como tucanos e papagaios de outras espécies, com agressivos ataques e intensa vocalização. Seus maiores inimigos são o tucano-de-peito-branco (Ramphastos tucanus), o tucano-de-bico-preto (Ramphastos vitellinus), araracanga (Ara macao) e o cauré (Falco rufigularis). Mas também têm que defender ninho e filhotes de macacos, iraras e serpentes.
As ararajubas procuram árvores altas (de 15 a 30 m de altura), vivas ou mortas, e ocas para construir seus ninhos. São escavados túneis que penetram fundamente na árvore, podendo chegar a uma profundidade de mais de 2m. Dentro desta câmara profunda, as fêmeas colocam de 2 a 4 ovos que são incubados por aproximadamente 30 dias, não somente pelos pais, mas também por outros indivíduos do bando. O grupo colabora no cuidado com os filhotes até que se tornem adultos, da proteção à alimentação.
A população total de G. guaruba provavelmente nunca foi grande, e hoje, é ainda menor. Estima-se que haja não mais que três mil indivíduos, e que este número está em declínio. A espécie é ameaçada pela destruição das florestas onde vive: sua área de ocorrência diminuiu em 40% em relação à original e justamente nestas áreas são verificados os mais altos índices de desmatamento na Amazônia. Em geral, para formação de pastagens. O tráfico de aves silvestres é outro fator que contribui significativamente para redução dessa espécie na natureza. A IUCN a classifica como Ameaçada e o ICMBio como Vulnerável.
Os esforços para preservação da ararajuba se concentram nas unidades de conservação nacionais: Estação Ecológica da Terra do Meio, Floresta Nacional Caxiuanã, Floresta Nacional Itaituba I, Floresta Nacional Itaituba II, Floresta Nacional Tapajós, Parque Nacional da Serra do Pardo (PA); Parque Nacional da Amazônia (AM); Floresta Estadual Rio Preto/Jacundá² (RO) e Reserva Biológica do Gurupi (MA). Somente as populações que habitam a Flona do Tapajós e Rebio Gurupi são razoavelmente protegidas: as demais estão sob pressão constante de madeireiros e invasores. Também prejudica a conservação o desconhecimento sobre muitos aspectos básicos da história natural, biologia e ecologia da espécie.

28 de out. de 2013

AGRICULTORES SE REUNEM NA PARAÍBA PARA DISCUTIR SOBRE AGROECOLOGIA

3o.  Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido apresentarão iniciativas de sucesso na região

[Reproduzido de Globo Rural on-line]

Participantes debaterão sobre os papéis do arredor da casa na produção de alimentos e geração de renda

Participantes debaterão sobre os papéis do arredor da casa na produção de alimentos e geração de renda (Foto: Jarbas de Oliveira/Ed. Globo)
Mais de 260 agricultores dos nove estados do Nordeste e de Minas Gerais se reúnem a partir de hoje (28/10) para trocar experiências sobre a biodiversidade e a agroecologia no Semiárido brasileiro. Eles participam do 3º Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido, que ocorre até quinta-feira (31/10) em Campina Grande (PB).

Na região, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vivem mais de 27 milhões de pessoas, representando aproximadamente 12% da população brasileira espalhados em 1.133 municípios do Nordeste e do norte de Minas Gerais. A vegetação predominante é a caatinga e uma das principais características do Semiárido é o déficit hídrico. Mas isso não significa falta de água. Porém, as chuvas são irregulares no tempo e no espaço, o que exige estratégias de convivência com o território.

Por isso, o evento busca valorizar e dar visibilidade ao conhecimento acumulado dessas famílias na construção da agroecologia e ativar redes de troca de conhecimento focadas na convivência com o Semiárido a partir dos recursos locais. Com base em testemunhos, os agricultores analisarão como estão enfrentando os períodos de estiagem. Serão apresentadas experiências de famílias de agricultores paraibanos das regiões da Borborema, Cariri e Curimataú, com bancos de sementes crioulas familiares e bancos comunitários adaptados para o plantio na região, manejo agroflorestal, criação animal e quintais produtivos.

"No tema dos quintais produtivos, os participantes debaterão sobre a multiplicidade de papéis do arredor da casa na produção de alimentos, no bem-estar da família, na geração de renda e na valorização do papel da mulher agricultora. Já no tema do manejo agroflorestal, conhecerão as práticas dos agricultores que plantam seu roçado na caatinga de forma consorciada com as espécies nativas do bioma, mantendo a vegetação ou revegetando a paisagem, mitigando os efeitos da desertificação", informou a assessoria da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), rede formada por organizações da sociedade civil que atuam no desenvolvimento de políticas de convivência com o bioma.

Os participantes também vão debater propostas de políticas públicas focadas no fortalecimento das redes de agricultores experimentadores para a convivência com o Semiárido com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Petrobras, Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Rural (Emater), entre outros interlocutores.

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