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28 de jan. de 2009

AMAZÔNIA EM CAPÍTULOS: I – FORUM ECONÔMICO DE DAVOS versus FORUM SOCIAL MUNDIAL DE BELÉM



















“GRANDÕES DO PRIMEIRO MUNDO versus ANÕES DO TERCEIRO” Subtítulo adequado para os participantes de dois encontros que estão acontecendo agora, no final de janeiro/2009. Com várias distinções: os primeiros são conhecidos pelo eufemismo “atores decisivos da sociedade” e os “outros” certamente, nem serão lembrados que existem! Os “grandões” estão reunidos em Davos, na Suiça; e os “outros” em Belém/PA, Brasil. O debate no encontro dos líderes mundiais e seus convidados especiais será unicamente a crise financeira mundial; daí a presença entre os 2500 convidados, de executivos “seniors” dos maiores bancos do mundo. E os “outros” estarão discutindo sobre a destruição da Amazônia.
DESTRUIÇÃO DA AMAZÔNIA Sendo este o tópico principal das discussões no Fórum Social Mundial em Belém, começaremos com ele os capítulos desta série resumida (aqui neste "ecologiaemfoco") sobre a maior floresta tropical contínua do mundo.
Em três sucessivas edições especiais, a revista Scientific American Brasil publicou no final de 2008 artigos sobre as “Origens, os Tesouros e os Destinos” da Amazônia. São impressionantes e preocupantes os dados sobre a devastação já perpetrada e as previsões para o futuro desse fabuloso patrimônio natural. Na edição “Destinos” o ecólogo Philip Fearnside (que tem dezenas de anos de experiência de estudos na região) e o especialista em detecção da devastação (por satélite), Paulo Maurício L. de A. Graça (ambos pesquisadores do INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), no artigo “Veias que Sangram”, enfatizam os efeitos decorrentes da expansão das rodovias na devastação da Amazônia, tendo começado com a BR-364 (originada em Cabedelo/PB), dirigindo-se para a região centro-oeste, passando em Cuiabá/MT até atingir Porto Velho/RO. Vieram em seguida: a Transamazônica (de Altamira/PA a Porto Velho), depois a BR-163 (de Santarém/PA a Cuiabá/MT) e mais recentemente a BR-174 (de Boa Vista/AP a Manaus/AM), continuada pela BR-319 (de Manaus a Porto Velho). A conservação dessas estradas em locais onde a precipitação pluvial média anual é de 2200 mm, seria apenas mais um dos detalhes que mereceriam destaque.
Não podemos esquecer o desastre da migração para Rondônia, incentivada pelo governo estadual na “Década da Destruição” (1980-90), quando quase 200.000 pessoas migraram anualmente para aquela região, para tomar posse de terras imprestáveis para a agropecuária. Tudo graças à BR-364 e uma outra rodovia chamada de “Estrada de Penetração 429”, construída com financiamento do Banco Mundial (que levou anos para reconhecer o erro e pedir desculpas ao povo brasileiro).
O ambiente sem lei e a impunidade permeiam toda a atividade econômica e os grupos sociais na região; afirmam os referidos autores acima. E ainda: “o caráter “fora-da-lei”, significa que boas intenções por parte de planejadores do governo têm pouca relevância na maneira como o desmatamento, exploração madeireira e o fogo podem se expandir na prática”. As estradas vicinais que surgem e surgirão ao longo dessas rodovias exercem efeito devastador difícil de ser controlado (ver foto, acima). Esta histórica opção brasileira pelo sistema “transporte rodoviário” gera conseqüências devastadoras imprevisíveis. Ao contrário de ferrovias, que gerariam efeitos pontuais, ou seja, na dependência das estações ferroviárias (que poderiam ter longas distâncias entre si), podendo assim a exploração na Amazônia ser melhor controlada.
Surge no Brasil amazônico a expressão “Arco do Desmatamento” (ou “Arco de Fogo”) uma imensa área de devastação da Amazônia, em forma de meia-lua estendendo-se da Belém-Brasília na Amazônia oriental, atravessando toda a região florestal em contato com o cerrado em Mato Grosso, continuando ao longo da BR-364 até a parte oriental do Acre. A outra foto acima mostra o que “nos espera” no futuro próximo. Esta imagem está sendo reproduzida constantemente em muitas fontes de informação, parecendo-me até que há intenção de nos tornar acostumados a esse “novo panorama da Amazônia”; ou seja, a verdadeira floresta se reduzirá a uma porção no noroeste da região, que poderá escapar da destruição; principalmente por encontrar-se distante das rotas de escoamento da produção e de grandes centros consumidores. A cidade de Porto Velho, por outro lado, situa-se em melhor condição para o escoamento da produção (soja, minérios...), inclusive estando mais próxima de rota pelo Pacífico. Daí ser essa cidade destino final dessas rodovias. E também não é à toa que lá estão sendo construídas duas hidrelétricas (Jirau e Santo Antonio no rio Madeira; esta última multada recentemente pelo IBAMA pela morte de 11 toneladas de peixe). Este é um pequeno exemplo do descaso dos empreendedores com a Natureza. Pessoas que pensam sobre a Amazônia como uma "commodity" estão no Fórum Econômico, em Davos. E aquelas que sofrem diretamente as conseqüências, estão no Fórum Social, em Belém.
Alguns detalhes das reservas criadas nas áreas do “Arco do Desmatamento”, que teoricamente escapariam da destruição total, assim como os “furos” já em andamento nas “APAs – Áreas de Proteção Ambiental”, detectados pelo Landsat, podem ser vistos no artigo de P. Fearnside e P.M. Graça.
A manipulação política das notícias veiculadas na mídia, do tipo “A Devastação da Amazônia Está se Reduzindo”, tem a intenção de camuflar o malefício maior: a somatória da devastação já ocorrida, ao longo dos dois governos FHC e (agora) dos dois governos Lula. Veja o quadro acima.
Enquanto os “grandões” decidem tudo, os “anões” apenas apresentam manisfetações de sua existência. Pela foto divulgada internacionalmente na mídia sobre o Forum Mundial Social no Pará (ver acima), talvez tenha ele repercussão de caráter mais folclórico do que eco-sócio-econômico.
Penso eu que um dia a humanidade (principalmente nós brasileiros) lamentará sua omissão diante de tais atrocidades praticadas contra a Natureza.

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