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6 de mar. de 2014

EXTRAÇÃO DE GÁS NA AMAZÔNIA: RISCOS E DESPERDÍCIOS

[Reproduzido de www.oeco.org.br]

Urucu queima gás no meio da Amazônia
Daniel Santini e Fabíola Ortiz - 28/02/14

Uma clareira em meio à densa floresta evidencia a atividade industrial no município de Coari (AM), a cerca de 650 km a sudoeste de Manaus. Visto do céu, o rombo na Floresta Amazônica se interliga a ramificações, como se numa constelação.Trata-se da província de Urucu, a maior unidade produtora terrestre de gás natural do Brasil e a terceira maior em produção de barris de petróleo. Não há estradas que ligam Urucu a nenhuma cidade, nem mesmo à Coari, a mais próxima, situada a 250 km. A construção do pólo de extração na mata na década de 1980 foi por si só uma epopéia.
Além dos impactos decorrentes da derrubada da mata para construção e manutenção das unidades e da perfuração de poços no meio da Amazônia, um novo aspecto tem preocupado ambientalistas no Brasil e no exterior: a queima de gás natural, processo conhecido como flaring. Pouco discutido no país, o flaring representa desperdício de energia e libera CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera, gás cuja acumulação agrava o efeito estufa. Só em 2013, o Brasil queimou 1,3 bilhão de m3 (4,6% do total) dos 28,2 bilhões de metros cúbicos (m3) de gás natural produzidos, conforme dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). A maior parte deste desperdício acontece nas plataformas de petróleo no mar, mas há um volume considerável de gás sendo queimado bem no meio da Amazônia.
A Petrobras tem adotado programas para reduzir as queimas e apresenta números que indicam melhora, mas a regularidade com que se queima gás na floresta ainda chama a atenção. O problema foi detectado em levantamento inédito feito pela organização não-governamental americana Skytruth, com base em monitoramento via satélite. De olho em pontos brilhantes provocados pelo flaring, os pesquisadores da Skytruth mapearam mais de 140 ocorrências de queimas no primeiro semestre de 2013, conforme é possível observar no mapa abaixo.

Assista o vídeo: http://youtu.be/Rm9DPn3J8A4
Gasoduto Urucu-Manaus
A dificuldade de escoamento do gás natural extraído em Urucu é um dos pontos que dificulta seu aproveitamento. Para minimizar o problema, o Governo Federal providenciou a construção de um gasoduto de 663 km ligando Urucu à Manaus, uma megaobra que também provocou impactos na floresta. A construção começou em 2006, levou três anos e envolveu cerca de 9 mil trabalhadores. Inserida no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a obra custou R$ 4,5 bilhões e teve como principal objetivo o abastecimento das usinas Manauara, Tambaqui, Jaraqui, Aparecida, Mauá, Cristiano Rocha e Ponta Negra. Operado pela Transpetro, o gasoduto foi inaugurado em novembro de 2009 com a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da então ministra Dilma Rousseff (PT). O gás natural produzido no Amazonas passou a servir, principalmente, para a geração de energia elétrica em Manaus - antes as usinas eram termelétricas movidas a óleo combustível e a diesel, consumindo cerca de 1,3 bilhão de litros desses combustíveis. Menos poluente e mais barato, o gás natural passou a substituir os combustíveis líquidos com a perspectiva de reduzir a emissão de gases do efeito estufa.
A obra reduziu a queima de diesel e óleo nas cercanias de Manaus, mas não resolveu o problema do flaring na floresta. A porcentagem de gás queimado segue praticamente a mesma ns últimos anos, sem variações por conta da construção do gasoduto.


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